Da chegada dos ingleses aos dias de hoje
A história da Madeira é, desde cedo, a história do fascínio que a ilha exerceu sobre quem vem de fora. No século XVII, os primeiros ingleses que se estabeleceram no Funchal trouxeram consigo capitais, o comércio organizado, o crédito, a exportação em larga escala e o gosto pelas “quintas” ajardinadas nas nossas encostas. O Funchal tornou-se porto de partida do vinho que correria o mundo e destino de famílias abastadas que procuravam repouso e tranquilidade com padrões minimamente europeus.
A presença inglesa elevou o padrão de vida urbano, e ligou a ilha ao mundo, tornando-a mais próspera e mais aberta. Na altura gerou desigualdades, fez subir o preço dos terrenos, muitos madeirenses venderam as suas quintas a ingleses, foram para mais longe, passaram a trabalhar para os ingleses, mas foi também um tempo de progresso e de aprendizagem: o madeirense aprendeu a negociar, a servir com profissionalismo e a olhar o exterior não como ameaça, mas como oportunidade.
Três séculos depois, o cenário repete-se com novos protagonistas. Hoje são ingleses, alemães, franceses, nórdicos, norte-americanos e outros que, atraídos pela proximidade das múltiplas ligações aéreas, pelo clima, pela segurança, adquirem casas e apartamentos em toda a ilha. O investimento estrangeiro é de novo motor: renova o tecido urbano, estimula serviços qualificados, traz diversidade cultural e gera emprego e riqueza.
É verdade que o preço da habitação sobe e que a pressão imobiliária é real, mas também é verdade que os madeirenses vivem hoje melhor do que viviam antes desta nova procura externa. Tal como outrora, a Madeira reencontra-se no equilíbrio entre a prudência e o arrojo, entre a preservação da sua identidade e a capacidade de se reinventar.
A ilha sempre viveu entre dois ventos, o que sopra de fora, trazendo prosperidade e ideias novas, e o que sopra de dentro, exigindo pertença e continuidade. Saber conciliá-los é o que, ontem como hoje, transforma o desafio em futuro.
Nuno Freitas