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Ameaça 'jihadista' mantém-se em Espanha mas com novo perfil 20 anos após o 11 de Março

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Foto EPA

A ameaça do terrorismo 'jihadista' continua presente em Espanha 20 anos após os atentados de Madrid de março de 2004, mas mudou o perfil dos potenciais atacantes: essencialmente "lobos solitários" nascidos no país e mais jovens, segundo diversos estudos.

Nos atentados de Madrid, cujo 20.º aniversário se assinalou esta segunda-feira (conhecidos em Espanha como 11-M), morreram 193 pessoas e quase 2.000 ficaram feridas em explosões em comboios suburbanos provocadas por uma célula islamita radical.

Estes são os maiores atentados da história de Espanha e uns dos maiores na Europa, o que levou a instituir o 11 de março como Dia Europeu das Vítimas do Terrorismo.

Desde esse dia, e segundo dados oficiais, Espanha deteve 1.047 pessoas suspeitas de atividades 'jihadistas' em 498 operações policiais.

Na última década, entre 2012 e 2023, houve 195 radicais condenados em Espanha, a que se somam outros dez que se suicidaram na prisão sem chegarem a ser julgados ou que morreram no momento que iam cometer ou cometeram atentados.

O alerta antiterrorista em Espanha mantém-se hoje no nível quatro numa escala em que cinco é o mais grave.

Depois do 11 de março de 2004, os maiores atentados 'jihadistas' em Espanha ocorreram em 2017 em Barcelona, onde morreram 16 pessoas.

Em 2018, 2021 e 2023 houve novos atentados e duas pessoas morreram.

Nestes três casos, ao contrário do 11-M e de Barcelona, os ataques foram atos individuais, de "lobos solitários", pessoas radicalizadas por propaganda 'jihadista' que atuaram sozinhas no quadro de aparentes episódios de transtorno mental ou de vingança pessoal, sem preparação prévia do atentado e sem usarem, por exemplo, armas de fogo.

Segundo três estudos divulgados recentemente pelo Programa sobre Radicalização, Violência e Terrorismo Global, elaborados por investigadores que trabalham com o Instituto Elcano, de Madrid, na última década o terrorismo 'jihadista' em Espanha rejuvenesceu-se e há maior peso de menores de idade do que nos anos anteriores.

O perfil dos islamitas radicais em Espanha na última década é similar ao do resto da Europa e são, essencialmente, homens que tinham entre 18 e 35 anos no momento da detenção, com trajetórias anteriores de delinquência violenta, não relacionada com o radicalismo islâmico.

No entanto, no caso espanhol há na última década o surgimento de um "jihadismo autóctone", com pessoas nascidas em Espanha, imigrantes de segunda geração com problemas de identidade, que "vivem entre dois mundos" e se revelam mais recetivas à propaganda islamita radical, nas palavras do investigador Fernando Reinares, numa conferência em Madrid em que foram apresentados os estudos do Instituto Elcano.

Uma das conclusões dos estudos é que a radicalização começa cada vez mais cedo: um em cada quatro 'jihadistas' radicalizou-se antes de chegar à maioridade e este é o único segmento etário em que, na última década, aumentou o número de potenciais terroristas.

A radicalização faz-se, sobretudo, na Internet, que está presente em 90% dos casos da última década, e foi exclusiva em 40%.

Segundo os investigadores do Instituo Elcano, os jovens que se radicalizam com contactos diretos presenciais têm maior predisposição para atos violentos, enquanto aqueles que o fazem 'online' tendem a desenvolver uma atividade de propaganda e difusão de mensagens, sem chegarem a concretizar eles próprios ataques.

No entanto, os investigadores alertam que a guerra na Faixa de Gaza (entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas) pode funcionar como catalisador de uma nova onda de radicalização a nível internacional, embora com menor dimensão do que aconteceu com o conflito na Síria, que dura há 13 anos.

Segundo os estudos, 70% dos casos da última década em Espanha resultaram de radicalização nos primeiros anos da guerra na Síria, que começou em 2011.