Para fazer pensar

A edição do dia 07/02/2024 me chamou atenção por causa de duas matérias. “Tribunal elimina restrições à entrada de TVDE na Madeira” e a “Madeira Isenta da Lei das Águas Residuais” referente a legislação que permite que as águas residuais tenham apenas o tratamento primário.

Fico pensando no porquê da Madeira ser contra os carros de aplicativo. No Caniçal, temos um exemplo da diferença que os transportes fazem no turismo. Faz um tempo que cobram pelo passeio na Ponta de São Lourenço. De fato é uma das mais belas paisagens da Ilha, mas temos outras tão belas quanto. O que explica então o turismo excessivo por lá?

A vereda da Ponta de São Lourenço é uma das poucas em que temos autocarros públicos regulares e um vasto parque de estacionamento. Se houvesse autocarros públicos com a devida frequência ou aplicativos com preços competitivos até outras veredas e levadas, haveria tanta pressão do turismo na vereda da Ponta de São Lourenço?

A resposta está na vereda do Pico do Arieiro. Por não haver formas eficientes de chegar ao local, carros se acumulam e disputam espaço, entupindo o estacionamento. A solução? Construir um novo parking, mais longe, acrescentando mais metros a umas das caminhadas mais desafiadoras da Madeira. Além disso, o solo do parking, está nu, e pronto para ser contaminado por resíduos de óleo dos carros (lembre-se amigo leitor que as bombas de combustível e as lavagens de carro tem piso de betão impermeável para evitar a contaminação do solo por combustíveis e impurezas que escorrem dos carros). Se houvesse transporte público e aplicativos com preços competitivos, não teríamos menos carros acumulados lá?

Ainda para fazer pensar, escrevo agora sobre a Madeira Isenta da Lei das Águas Residuais. A reportagem pareceu satisfeita com o fato de não ser necessário o tratamento secundário das águas residuais. Ou seja, satisfeita por não precisarmos tratar os dejetos de 200 mil habitantes antes de devolvê-los ao mar . Isso significa que todo o esgoto da Madeira apenas passa por um gradeamento (isso mesmo, uma grade para segurar os sólidos, como plásticos etc) e é jogada de volta ao mar. Fico curioso, entretanto, com as contradições e convido o leitor a pensar:

Como uma população aceita jogar seu esgoto no mar, sem um tratamento mais rigoroso, mas é contra a aquacultura? Uma atividade joga esgoto no mar e a outra gera empregos e melhora a autossuficiência alimentar da Ilha. Onde estão os protestos para sermos vanguarda no tratamento do esgoto? O que será que causa mais impacto? O esgoto de 200 mil habitantes ou algumas jaulas de aquacultura?

Arthur Friedrich