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Fact Check Madeira

Será a Madeira um mundo à parte no que respeita ao acesso a cuidados de saúde?

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Ontem, dia 11 de Fevereiro, o Bloco de Esquerda desenvolveu uma iniciativa política, na Nazaré, no Funchal, dedicada às questões da saúde. Nesse âmbito, a dirigente regional, Dina Letra, afirmou que "os mais de 100 mil actos médicos por cumprir, com ou sem apagão informático ou com o truque das especialidades, que foram mandadas retirar pelo secretário da Saúde, têm como consequência uma saúde e uma vida piores para os madeirenses".

Dizia o BE que essa “falta de resposta do serviço público de saúde à população é a marca da governação do PSD-M das duas últimas décadas".

A notícia dessa iniciativa gerou alguns comentários, uns a elogiar a afirmação, outros a detraí-la. Entre estes últimos, houve quem tenha afirmado que, ao contrário do que se observa no continente, na Madeira, nunca se fizeram filas de um dia para o outro, só para marcar uma consulta. Será verdade que isso nunca aconteceu na Madeira, pelo menos nos últimos 20 anos?

A forma de compararmos o que acontece na Madeira com a realidade do continente, no que diz respeito à pernoita junto de unidades de saúde, para conseguir marcar uma consulta, é o  recurso a notícias publicadas na comunicação social regional e na nacional.

Comecemos então pela realidade nacional.

Uma pesquisa, com recurso ao motor de busca do Google, a notícias publicadas em Portugal sobre os constrangimentos à marcação de consultas nos centros de saúde, em especial, que tenham obrigado à pernoita dos utentes junto às unidades de saúde, revelou muitos casos em que isso aconteceu.

Para este trabalho, considerámos, por exemplificativos, três casos, verificados nos últimos três anos: 2021, SIC Notícias – ‘Utentes chegam de madrugada para garantir consulta nos centros de saúde’; 2022, CM, ‘Centros de saúde com longas filas de espera em todo o País – Utentes vão de madrugada para a porta dos edifícios para conseguirem marcar uma consulta’; 2023, SIC Notícias, ‘Dezenas de utentes pernoitam à porta da UCSP de Moscavide para conseguirem consulta’.

Com esta amostra e pelos resultados obtidos na referida pesquisa, consideramos não haver dúvidas de que, na actualidade, há utentes do SNS que têm de pernoitar junto a um centro de saúde, para conseguirem uma consulta.

Para verificarmos o que acontece com os utentes de saúde na Madeira, fizemos o mesmo exercício, mas acrescentámos uma pesquisa aos arquivos das edições impressas do DIÁRIO e do Jornal da Madeira/JM.

A conclusão a que se chega é que a realidade é bem diferente da vivida no continente, mas, num caso e no outro, não considerámos os constrangimentos resultantes exclusivamente do efeito da adopção de medidas de combate à pandemia por Covid-19.

Nos anos mais recentes, não detectámos informação sobre pernoitas junto a unidades de saúde da Madeira, para efeito de marcação de consultas. Mas essa situação já existiu, nomeadamente, ainda que não exclusivamente, nos últimos 20 anos [prazo referido pelo leitor e pelo BE].

Em Junho de 2008, o DIÁRIO relatava que os utentes do centro de saúde de Câmara de Lobos tinham de ‘Madrugar por uma consulta’.

Em Março do ano seguinte, uma reportagem no Estreito de Câmara de Lobos detectava uma situação semelhante.

Nos anos mais recentes, 2017 e 2020, também encontrámos notícias de filas junto a unidade de saúde da Madeira ou relacionadas com o sector, mas não para marcação de consultas ou, então, eram de situações ligadas à pandemia de Covid-19.

Mesmo assim, aqui ficam alguns casos: em Junho de 2020, o DIÁRIO noticiava – ‘Utentes (des)esperam para que alguém atenda’.

Em 2017, outra notícia dizia que os utentes do Estreito de Câmara de Lobos eram ‘Obrigados a chegar às 6h30 para poderem fazer análises’.

Além destes casos, registámos, em datas mais remotas, filas junto aos centros de saúde para vacinação contra a gripe e/ou à porta do IASAÚDE para conseguir obter reembolso de despesas de saúde, ou no Centro de Saúde do Bom Jesus por uma consulta (anos 90).

Assim, pelo exposto, podemos afirmar que, no presente, não se registam na Madeira dificuldades idênticas às verificadas, em determinadas zonas do País, como nas relatadas em torno de Lisboa, para a marcação de consultas nos centros de saúde. Mas não se pode afirmar que essa é uma situação que nunca aconteceu na Madeira. Por isso e por ter afirmado ao contrário, a afirmação do leitor é falsa.

“Nunca ouvi falar, aqui, na Madeira, em fazer fila de um dia para outro, só para marcar consulta, como no continente. Só nisto, já estamos 20 anos adiantados, em relação aos continentais. Leitor do DIÁRIO no Facebook