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Fact Check Madeira

O IPMA acertou no aviso laranja para chuva e vento durante a depressão ‘Irene’ na Madeira?

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A passagem da depressão ‘Irene’ não passou despercebida aos madeirenses. Vento forte, períodos de chuva intensa, trovoada com relâmpagos em mais de 2.700 descargas eléctricas, voos que divergiram e mais de uma dezena cancelados, queda de árvores, estruturas vergadas e pequenas derrocadas. Foi este o saldo desta tempestade que ainda se vai sentindo, embora com menor intensidade na Região, num momento em que vigoram avisos amarelos para a agitação marítima (até ao meio-dia de amanhã) e para o vento (até às 18 horas desta terça-feira). Mas terá havido motivo para a emissão de aviso laranja, o segundo mais grave numa escala de quatro, para a chuva e o vento?

A ‘Irene’ chegou afoita. Vento com rajadas até aos 120 km/h nas terras altas, períodos de chuva forte nas zonas montanhosas e costa sul da ilha da Madeira e agitação marítima com ondulação até 5,5 metros constavam nas previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para a Madeira. O período mais conturbado seria entre a meia-noite e as 15 horas desta terça-feira, o que motivou a emissão de um aviso laranja para a chuva e para o vento forte do quadrante Sudoeste, com rajadas até 95 km/h, sendo forte a muito forte nas terras altas, com rajadas até 120 km/h.

Nas a verdade é que a ‘fúria’ da ‘Irene’ fez-se notar mais pelo sopro do que pela precipitação, o que não significa que as previsões tenham falhado, pois o maior volume de chuva poderá ter caído no mar a Noroeste da ilha da Madeira onde não existem instrumentos de medição. O que caiu no Porto Moniz poderá ser prova disso mesmo: foi a localidade onde mais choveu. Entre as 00hh00 e as 15 horas, caiu 38,1 mm. Seguem-se São Vicente com 32 mm e Funchal com 22,5 mm.

Analisando os extremos de precipitação da rede de estações meteorológicas do IPMA na Região, podemos constatar que choveu com maior intensidade no Porto Moniz (16,2 mm em apenas 1 hora), seguindo-se o Funchal (15,6 mm em apenas 1 hora) e Santo da Serra (12,1 mm/1h). Estes foram os palcos das maiores descargas de água, se assim o podemos apresentar, seguindo-se duas zonas altas da capital madeirense: Chão do Areeiro (11,8 mm/1h) e Monte (10,3 mm/1h).

Nos critérios do IPMA para a precipitação, o aviso laranja é emitido quanto há previsão de regime de chuva ou aguaceiros entre 21 e 40 mm/1h. Quer isto dizer que a quantidade de precipitação máxima no intervalo de 1 hora não foi além dos 16,2mm (máximo registado na Madeira). Ou seja, em terra não caiu a quantidade de chuva prevista para aviso laranja. E o aviso amarelo verificou-se em apenas 5 das 20 estações meteorológicas da rede de estações do IPMA na Região.

A ‘Irene’ destacou-se mais pelo fôlego, com o vento a sacudir e a causar destroço, conforme o DIÁRIO tem noticiado ao longo da jornada informativa, do que propriamente pela quantidade de chuva. Conforme demos conta, o vento forte atingiu a rajada máxima nas zonas altas do concelho do Funchal, atingindo os 143 km/h no Chão do Areeiro. Aquele extremo do vento, que soprava do quadrante Sudoeste, foi observado às 7h20.

Também no Aeroporto da Madeira houve rajadas bem acima do habitual, provocando naturais condicionamentos na aviação. A estação junto à pista de Santa Catarina registou a máxima de 126 km/h pelas 6 horas da manhã, sendo esta a segunda mais elevado durante as 15 horas em que vigorou o aviso laranja.

No ‘ranking’ dos extremos para o vento, seguem-se Ponta do Pargo, com a marca de 116 km/h à 1h40, Ponta de São Jorge (100 km/h às 2h20) e Aeroporto do Porto Santo (96 km/h às 5h50). Mas estarão todos estes valores dentro do aviso laranja emitido pelo IPMA?

Ora, a generalidade dos registos de rajada enquadra-se no intervalo definido para o aviso laranja, de acordo com os critérios de emissão dos avisos meteorológicos aplicados pelo próprio IPMA. Apenas o valente sopro de 143 km/h desta manhã no Chão do Areeiro entra no aviso vermelho (superior a 130 km/h). Todos os restantes inserem-se no intervalo de 90 a 130 km/h (costa norte, sul e Porto Santo) e de 111 a 130 km/h (nas terras altas) definido para aviso laranja.

Quanto ao vento, podemos concluir que das 20 localidades da Região Autónoma da Madeira servidas por estações meteorológicas, 6 registaram valores de rajada dentro do aviso laranja, apenas 1 esteve dentro do aviso vermelho e as restantes 13 foram de aviso amarelo.

Sendo as previsões meteorológicas realizadas com base em cálculos matemáticos, probabilidades e observações, e sendo a análise feita não só tendo em vista o território terrestre mas também o território marítimo do arquipélago da Madeira, conclui-se que o aviso laranja adequou-se à previsão de vento, ainda que uma das localidades tenha atingido valor de aviso vermelho.

Já em relação à chuva, o IPMA colocou a fasquia dos avisos um pouco elevada para a realidade que viria a se verificar, já que nenhuma das estações meteorológicas registou – e ainda bem – um volume de precipitação compatível com o aviso laranja. Até o aviso amarelo verificou-se em apenas 25% das estações da rede do IPMA na Região. Contudo, a verdade é que, nestas coisas, mais vale prevenir do que remediar.

O IPMA acertou no aviso laranja para chuva e vento durante a depressão ‘Irene’ na Madeira?