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O Problema do Analfabetismo Político

É notório que o exercício da política, continua a afastar-se para a periferia da ética, assistindo-se a uma crescente divergência entre a prática política e os princípios basilares de uma ética política. Os cidadãos estão cansados de ser confrontados continuamente, com notícias que relatam escândalos de corrupção e comportamentos desalinhados com o que se exige de um político, o qual deve personificar alguém, que, pontualmente, deixa a sua vida privada, para servir a vida pública. E escusado será dizer, que administrar a vida em sociedade, sem valores morais e éticos e sem organização política, é um exercício impraticável. E sem uma ideologia da ética, que garanta a criação de laços de confiança entre os cidadãos e os seus representantes políticos, é impossível assistir-se à política verdadeira, àquela que procura a melhoria das condições de vida para o maior número de cidadãos. O resultado da falta de sentido de dever por parte dos agentes políticos, tanto pode resultar em apatia e desinteresse por parte dos cidadãos, como em forte fermento para o aparecimento de movimentos e/ou partidos populistas, que inflamam as populações, particularmente aquelas que habitam as franjas da sociedade. É por essa razão, que uma das funções primordiais de um político, é a promoção do esclarecimento, o qual tem um efeito determinante numa democracia, cuja tarefa principal é a “produção” de cidadãos. Sem estes, que são o elemento sustentatório e de maior protagonismo num sistema democrático, não há democracia no verdadeiro e abrangente sentido da palavra, e assim sendo, assiste-se hoje, a muitas democracias de papel. Nos tempos que correm, é possível constatar uma série de ditas democracias, que na verdade não o são, bastando para o avaliar, verificar se há ou não participação dos cidadãos. E também é possível examinar, em função da atividade cultural que proporciona aos seus concidadãos, se o político em funções, está ou não empenhado em combater o analfabetismo político. Bertolt Brecht, foi um alemão multifacetado que viveu entre os anos de 1898-1956, e que revolucionou a teoria e a prática da dramaturgia e da encenação, operando uma mudança na função e no sentido social do teatro, usando-o como arma de consciencialização e politização, e cujo pensamento continua atualíssimo. Notabilizou-se como um dos grandes pensadores políticos do mundo contemporâneo, tendo apelidado de analfabeto político todo o cidadão que não lê, não ouve, não fala e não participa nos acontecimentos políticos da sua comunidade e do seu país. De acordo com o seu pensamento, “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, os preços do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito, dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil, que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, desonesto, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.” Da sua fundamentação, pode extrair-se que o analfabeto político na sua grande maioria, é um analfabeto funcional porque ao não entender o meio em que está envolvido, não faz uso da importância democrática de que ele próprio se reveste. Abstrai-se da vida política, tornando-se uma marioneta ao serviço daqueles que manipulam a democracia. Vota, como ato autómato, sem escrutinar a conduta, preparação e propostas daqueles que se candidatam, e fá-lo no fito de obter benesses assistencialistas, ao sabor do poder, não acompanhando sequer os resultados das promessas daqueles em que votou. Evidencia assim, ser também ele culpado da indigência social em que vive. É que, sem cidadãos participantes e exigentes, a democracia não se pode realizar.