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Das “obras inventadas” à pobreza

Ainda hoje pagamos impostos mais altos do que nos Açores e vivemos com a carga de uma dívida colossal que continua a ser paga por todos nós. Nem assim as opções parecem ter mudado

A semana passada ficou marcada pelas polémicas declarações do deputado Sérgio Marques, que fez acusações de extrema gravidade relativamente à atuação dos vários Governos Regionais liderados pelo PSD. Desde “obras inventadas” ao “investimento louco feito pelas sociedades de desenvolvimento”, passando por referências ao poder e influência de grupos económicos que terão sido decisivos no seu afastamento do Governo Regional onde, recorde-se, foi Secretário Regional de 2015 a 2017, no primeiro Governo de Miguel Albuquerque.

Se há um detalhe fundamental em todo este processo, e que deve ser relevado, é precisamente o facto de ter sido um alto quadro do PSD, então deputado à Assembleia da República, ex-deputado na ALRAM, ex-eurodeputado e ex-Secretário Regional quem fez as denúncias, e fê-las publicamente.

Não foi a oposição, não foi o Partido Socialista, mas sim alguém que fez parte da governação do PSD na Região e que conhece por dentro os seus meandros.

Perante estas graves afirmações, os madeirenses têm o direito de exigir explicações ao Governo Regional, em particular ao seu presidente Miguel Albuquerque.

É por esse motivo que, cumprindo o papel para o qual fomos eleitos, demos entrada de um requerimento para a constituição de uma comissão de inquérito que contribua para prestar os devidos esclarecimentos e apurar a verdade dos factos, até às últimas consequências. O PS-Madeira não permitirá que a situação passe ao esquecimento, nem que o escrutínio e fiscalização da ação do Governo deixe de ser realizado. Também por essa razão, chamaremos Miguel Albuquerque e os empresários visados nas acusações a prestar esclarecimentos na Comissão de Inquérito.

De uma coisa não temos dúvidas! Todo este caso teve já consequências, com Miguel Albuquerque a apontar a porta de saída a Sérgio Marques e este a aceitar a “instrução”, renunciando ao mandato de deputado que exercia na Assembleia da República. Esta tentativa de afastar o desconforto, de querer deixar a mensagem que o assunto está encerrado, por nós não passará!

Era o que faltava!

Não aceitamos que o Presidente do Governo Regional, que de forma tão célere aponta o dedo lá para fora, fuja ao escrutínio.

Até porque aquilo que está aqui em causa é a sua capacidade de liderar e governar. Opções erradas e prioridades invertidas, já todos conhecíamos, mas termos, além disso, um Governo Regional permeável a pressões externas é inaceitável.

Infelizmente, o despesismo dos sucessivos Governos Regionais não é novidade para ninguém na Região. Está à vista de todos, tal como está bem vivo na dia a dia dos madeirenses o custo desse mesmo despesismo. Ainda hoje pagamos impostos mais altos do que nos Açores e vivemos com a carga de uma dívida colossal que continua a ser paga por todos nós. Nem assim as opções parecem ter mudado, quando olhamos para a intenção de gastar milhões em teleféricos no Curral das Freiras ou no prolongamento do molhe da Pontinha.

Não deixa por isso de ser curiosa a reação de Miguel Albuquerque aos dados do INE, que uma vez mais referem que a Madeira é a região do país com maior taxa de risco de pobreza e exclusão social, afirmando que não confia nos dados e apontando novamente em várias direções.

Nesta manobra de diversão, foi secundado pela Secretária Regional da Inclusão Social e Cidadania que justificou os dados com, pasme-se, a pandemia. Resta-me perguntar, a pandemia não afetou o mundo inteiro e as outras regiões do país? Não fomos e somos a Região exemplo internacional na gestão da pandemia quer em termos de Saúde, quer em termos de desempenho económico?

Há efetivamente muita coisa que não bate certo e o tempo, esse, teima em desmentir a propaganda oficial do Governo Regional! Não confiar nos dados é não confiar na sua própria governação, porque o seu legado é exatamente este: deixar a Madeira na cauda do país em termos de pobreza!