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Guterres frustrado por mundo estar "a perder" luta contra alterações climáticas

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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, mostrou-se hoje, em Cabo Verde, frustrado por o mundo estar "a perder" a luta contra as alterações climáticas e a condenar países a uma "sentença de morte".

"Estou profundamente frustrado com o facto de os líderes mundiais não estarem a prestar a esta emergência, uma emergência de vida ou de morte, a ação e os investimentos necessários. Estamos perante a luta das nossas vidas e infelizmente estamos a perdê-la", afirmou António Guterres, numa declaração após reunir-se no Mindelo, ilha de São Vicente, com o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva.

"As emissões continuam a aumentar, as temperaturas não param de subir, estamos prestes a ultrapassar o limite de 1,5 graus e se nada for feito a caminho, na direção, dos 2,8 graus de aquecimento global até ao final do século. Seria uma catástrofe de consequências devastadoras. Várias partes do nosso planeta seriam inabitáveis, particularmente em África, e para muitos, esta seria uma sentença de morte", enfatizou.

Para o secretário-geral das Nações Unidas o momento é de "mais solidariedade" e de "maior sentido de urgência e mais ambição".

"E precisamos de Justiça para aqueles que, como Cabo Verde, praticamente nada fizeram para provocar esta crise, mas pagam por causa dela um preço muito elevado. Cabo Verde tem demonstrado liderança climática em palavras e ações", apontou.

"Estou mais determinado do que nunca em tentar fazer de 2023 um ponto de viragem para as pessoas e para os planetas, promovendo a paz e a segurança, impulsionando o cumprimento dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a redução das desigualdades. Invertendo a maré no que respeita à crise climática. E por tudo isto e muito mais, estou profundamente agradecido por ter em Cabo Verde um país que é um parceiro fundamental, que ajuda a construir o caminho para um mundo mais justo e mais sustentável", afirmou Guterres.

O secretário-geral das Nações Unidas iniciou hoje uma visita de três dias a Cabo Verde, no âmbito da Ocean Race, a maior regata do mundo que de 20 a 25 de janeiro faz escala na ilha cabo-verdiana de São Vicente, participando na segunda-feira, também no Mindelo, na Ocean Summit.

"E sei que Cabo Verde, tal como os outros pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento - que são uma prioridade na parceria e na ação das Nações Unidas -, enfrenta grandes desafios, tais como as consequências decorrentes da pandemia e, sobretudo, o aumento do custo de vida, que tem sempre um impacto devastador nas populações. Cabo Verde, tal como outros países vulneráveis de médio rendimento, precisa de acesso urgente a financiamento, bem como de efetivo alívio e reestruturação da sua dívida", defendeu Guterres.

"E Cabo Verde está, como é sabido, na linha da frente da crise existencial gerada pelas alterações climáticas. Nos últimos cinco anos, sei que Cabo Verde enfrentou uma seca severa. A subida do nível do mar e a perda de biodiversidade e de ecossistemas representam ameaças existenciais para este, como para muitos outros arquipélagos", reconheceu igualmente.

O secretário-geral das Nações Unidas destacou "os objetivos de conservação e de proteção marinha" definidos por Cabo Verde, estabelecidos na Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável Ambição 2030, bem como os esforços "na reconversão da dívida em projectos climáticos, incluindo investimentos na economia azul".

"E aguardamos com expectativa a oportunidade de trabalhar com o Governo e com o povo de Cabo Verde para traduzir esta ambição em realidade, nomeadamente no âmbito do recente acordo Quadro de Cooperação da ONU, que também identifica a economia azul como uma oportunidade fundamental para promover o desenvolvimento sustentável em todo o arquipélago.

Ainda hoje, depois da reunião com o chefe do Governo cabo-verdiano, António Guterres participa ainda no evento "Speaker Series", com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.