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Artificializar ou criar condições no litoral?

Em período estival, em que o calor e as águas frescas convidam a banhos, surge-me sempre o pensamento de que, apesar de uma extensa costa, o concelho da Calheta tem poucas zonas propícias para praias acessíveis a banhistas.

Esta costa sudoeste da ilha tem a vantagem adicional de ter um clima ameno, particularmente, as localidades que se encontram numa cota próxima ao mar.

A praia mais conhecida, que passou a ser uma imagem de marca da Calheta, resultou de um processo de artificialização, questionável e discutível, mas que proporciona condições de conforto e segurança para os utilizadores. A intervenção humana tem sido uma necessidade para se criarem condições de usufruto das águas de mar com fins recreativos. Outrora pouco utilizadas com esses fins, agora não imaginamos passar o verão sem esse encontro com o oceano.

Há três freguesias do concelho que apresentam condições naturais mais favoráveis: Calheta, já com praia artificial de areia amarela que substituiu outra de seixos basálticos, (no Arco da Calheta, existe outra praia criada com rocha basáltica), o Jardim do Mar, com um solário notoriamente insuficiente para o número de banhistas, a exigir intervenção para garantir não só melhores condições para banhos de sol, mas também de segurança para acesso ao mar e Paul do Mar com a maior extensão de praia de calhau do concelho, já com intervenções pontuais, mas ainda insuficientes, sobretudo na praia da Ribeira da Galinhas.

Recordo-me, quando era criança, que havia muita areia preta no litoral do Jardim do Mar, o que dava mais conforto às praias e fornecia material de construção aos habitantes locais. A sua extração passou a ser proibida na costa, enquanto se permitia a extração dos inertes nos fundos marinhos pelos barcos areeiros.

Ao se explorar os recursos naturais de forma impiedosa e intensiva, como se fez ao largo do Jardim do Mar, Paul do Mar e Madalena do Mar, durante 20 anos consecutivos, não só se destruíram as praias e fundos marinhos, como se acelerou o processo de erosão, o que implicou intervir e artificializar a costa, levando a mais betonização para compensar os danos feitos.

Tendo-se desencadeado o processo de alteração das caraterísticas naturais da costa do concelho da Calheta, sejamos capazes de promover melhores condições às praias, respeitando a natureza o mais possível para que todos, locais e visitantes, usufruam do nosso mar com segurança.