Crónicas

Empatia

Para nós o que importa é o momento, a forma como o sentimos de maneira egoísta sem nos preocuparmos com outras formas de estar ou de ver

Há poucos dias escrevia neste espaço aquilo que significava a tolerância e o quão importante nos dias que correm é esse conceito contrapondo extremismos que pululam na nossa sociedade. Mas a par da tolerância existe um atributo que vem sendo muito esquecido, talvez por não estar na moda ou por não ser assim tão relevante. Chama-se empatia. A empatia não é mais do que nos colocarmos nos sapatos dos outros, de termos a capacidade de entender o que os outros estão a sentir, de absorvermos as dores e dificuldades dos que nos são mais próximos mas também as virtudes e os sucessos. Tantas vezes, nos dias que correm passamos os dias embrenhados nos nossos próprios problemas, no que nos acrescenta ou faz falta, no que nos motiva ou desilude e vamos-nos esquecendo do que as pessoas que estão à nossa volta sentem. É muito mais fácil vermos o mundo aos nossos olhos e esquecermos de o contemplar aos olhos dos outros. A verdade é que nunca conseguiremos perceber realmente o que nos rodeia sem termos a capacidade de entender as diferentes visões dos outros.

A vida hoje em dia é muito efémera, é circunstancial e instantânea. Para nós o que importa é o momento, a forma como o sentimos de maneira egoísta sem nos preocuparmos com outras formas de estar ou de ver. Mais grave do que isso, não aceitamos opiniões diferentes e recriminamos quem expõe ideias, sustentadas ou não que não vão de encontro ao que nós idealizámos. As redes sociais só vieram dar palco a esta forma de estar e de pensar. Pessoas que não pensam pela própria cabeça, que defendem a liberdade mas não admitem opiniões contrárias, que se predispõem a entrar em guerras que não são as suas e que seguem a opinião vigente, sem se preocupar minimamente com outros pontos de vista. Nos dias que correm tudo o que não vai de encontro ao que é politicamente correto é para dilacerar, para partir e rebentar. Isso faz com que as pessoas que realmente têm projectos diferentes para apresentar os escondam muitas vezes por medo ou receio do que a opinião pública terá para julgar.

É por isso que a palavra empatia que caiu tanto em desuso deveria ser tão impactante para tanta gente. É que passamos a vida a tomar decisões que interferem na vida dos outros sem sequer nos questionarmos qual é a sua opinião, porque é que pensam de determinada forma, e de que maneira podemos conjugar diferentes visões e objectivos aparentemente dispares. Empatia é isso mesmo, percebermos o que os outros estão a sentir, sermos sensíveis a diferentes momentos e sensibilidades, estarmos determinados a fazer escolhas e tomar decisões, não só pelos nossos próprios interesses mas por um bem comum. Ter a capacidade de sentir o que os outros sentem ou estarmos determinados a entender não só os nossos próprios interesses mas também os dos que nos são mais próximos. Esta é uma das maiores virtudes dos tempos modernos e ainda assim das que mais são relevadas para segundo plano. Preferimos cingir-nos a conceitos mais modernos e apelativos, que chamam mais à atenção e que se encontram nas bocas do mundo. Mas por vezes os conceitos e as determinações mais ancestrais são as que mais perduram no tempo e que nos marcam de uma forma indelével.

Uma pessoa empática está muito mais próxima de ser bem sucedida do que alguém que pura e simplesmente não quer saber do que os outros pensam ou não tem sequer o tato para sentir o que os outros estão a sentir. A empatia é importante como valor humano, intrínseco e incomensurável, como forma de estar em sociedade e na maneira como nos integramos uns nos outros. Mas é também sinónimo de inteligência emocional, o que nos aproxima de sermos mais cheios, mais inteiros. Que nos faz estarmos mais perto e atentos às necessidades dos outros, que nos ajuda a entender a vida e nos deixa despertos e atentos ao que nos aproxima. Empatia é cada vez mais entender a vida, as relações humanas e os outros, é por isso que num tempo marcado por conceitos vazios conseguir sentir genuinamente o que os outros sentem é uma mais valia.

Às vezes, com as modernizes vigentes, esquecemo-nos dos que estão mais próximos de nós. Preferimos dar importância a outras coisas mais superficiais e momentâneas. Falha-nos a sensibilidade para pensar em nós em vez do eu. E isso por vezes significa falhar absolutamente tudo. Cada vez mais, com a evolução do ser humano, quem não se consegue integrar, quem não consegue ser empático e criar esses laços com os outros estará muito mais longe do sucesso.A empatia é uma palavra muito bonita que deve ser protegida e alimentada. Porque nela está a essência do que nos rodeia. O afeto pelos outros, a preocupação, o entendimento, a valorização do que são as ideias e as formas de estar dos nossos. Isso no fundo é tudo, nós é que muitas vezes nos esquecemos do essencial.