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Como elevar os níveis de literacia da leitura?

Diversos estudos realizados a nível nacional e internacionalmente retratam que Portugal, inclusive a Região Autónoma da Madeira, apresenta resultados muito deficitários em termos de leitura.

É importante saber onde residem as dificuldades dos alunos na área de Português, mas acima de tudo torna-se medular que se perceba o que se pode fazer para melhorar os níveis de literacia de leitura.

Estimular as crianças, desde muito cedo, para adquirir hábitos de leitura e para o manuseio de livros é um aspeto a ter em conta. Realizar brincadeiras com lengalengas, com trava-línguas, com adivinhas, com tarefas de consciência fonológica também ajudam a motivar para a língua. Para além disso, torna-se fulcral que o adulto tenha o hábito de ler histórias, promova momentos em que a criança contacte com livros, revistas, jornais, folhetos informativos e publicitários. Ir à biblioteca para requisitar livros, tendo em conta a área de interesses da criança ou simplesmente para folhear, para observar as ilustrações, ir às livrarias, manusear livros durante o banho, ouvir histórias antes de adormecer… são atitudes motivadoras para a literacia da leitura.

Já em idade escolar e após o domínio do código alfabético é imprescindível que um aluno se torne um leitor fluente e competente. Aprender a ler bem é um processo moroso e de um grande nível de complexidade que carece do ensino explícito de estratégias cognitivas e metacognitivas. As estratégias cognitivas possibilitam ao leitor tirar notas, realizar pequenas sínteses, extrair inferências, mobilizar os seus conhecimentos prévios, antecipar e examinar as diversas pistas textuais. Já as estratégias metacognitivas envolvem uma maior reflexão acerca da leitura e do processo de aprendizagem. Perceber quais são as estratégias que devem ser usadas para compreender um texto ou uma tarefa; compreender quais são os processos utilizados e quando devem ser usadas essas estratégias dizem respeito às diversas estratégicas metacognitivas a acionar. Estas possibilitam ao leitor compreender o conteúdo do texto e atribuir-lhe significação e sentido.

Um leitor pode obter bons níveis de proficiência leitora se beneficiar do ensino explícito de estratégias que se ativam nas etapas da atividade leitora: antes, durante e após a leitura. O ensino dessas estratégias nos diferentes momentos da leitura implica a explicitação de um conjunto de processos de autorregulação para favorecer uma melhor compreensão do texto e facilitar a construção e/ou reconstrução do sentido do texto. Essas estratégias permitem o desenvolvimento de competências metacognitivas, linguísticas, inferenciais e críticas, possibilitando que o leitor crie autonomia na descoberta do sentido do texto lido.

Durante a pré-leitura é fundamental que sejam alicerçadas tarefas que estimulem a motivação para a leitura; acionem os conhecimentos prévios dos leitores e possibilitem a antecipação acerca da estrutura do texto, de forma a despoletar uma boa compreensão leitora. Nesta fase é importante explorar o título, as ilustrações, as palavras destacadas, dialogar acerca do tema, fornecer instruções de acordo com as características e finalidades da leitura, efetuar previsões acerca do texto, entre outras tarefas. Já as atividades a realizar durante a leitura devem se basear num leque de estratégias facilitadoras de interação leitor/texto, levando o leitor a realizar inferências e a construir um pensamento crítico. Durante a leitura, é crucial orientar o leitor a destacar palavras e expressões difíceis de compreensão ou a destacar trechos do texto que não compreende; efetuar previsões sobre a continuação do texto após a leitura de um trecho; interromper a leitura em parágrafos para formular questões; fornecer cópias do texto com anotações na margem; recorrer ao contexto para descoberta do significado de palavras, … são exemplos de estratégias que podem ser implementadas e que ensinam a compreender. As tarefas de pós-leitura devem desenvolver competências que conduzam à compreensão do texto na sua globalidade. Nesse momento, torna-se importante formular perguntas que exijam a releitura; propor ao leitor a apresentação de sinónimos/antónimos de expressões sinalizadas; analisar as previsões enumeradas antes da leitura e após o texto lido; identificar detalhes e situações de causa-efeito; realizar sequências de ações; extrair inferências; apreciar o impacto que produziu, …

Para além destas atividades, as escolas podem aplicar programas estruturados de compreensão da leitura que ajudem a melhorar os níveis de proficiência leitora dos alunos. Também os pais poderão usá-los a fim de tornar os seus filhos “bons leitores”. Em Portugal existem três programas de compreensão da leitura que visam melhorar a leitura dos alunos portugueses: i) Compreender para Ler. Ler para Compreender (no prelo); ii) Aprender a Compreender torna mais fácil o saber; iii) Aprender a Compreender. Do saber… Ao saber fazer. Os primeiros programas são dirigidos aos alunos de 1.º ciclo e o último destina-se ao 2.º ciclo.

Tanto as estratégias a usar antes, durante e após a leitura, como os programas de compreensão da leitura ajudam na obtenção de níveis mais elevados de proficiência leitora. O aumento dos níveis de literacia da leitura depende do modo como se estimula e ensina a ler. É preciso reconsiderar os contextos de ensino-aprendizagem e perceber que a leitura é uma porta aberta para além das quatro paredes da escola e da vida académica de um aluno. A leitura é uma das atividades mais importantes da vida e é a chave para aprender, para atuar e para participar no mundo contemporâneo.