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UE apela às partes em conflito Darfur para que protejam população civil

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A União Europeia (UE) apelou hoje às autoridades do Sudão e aos movimentos rebeldes no país para que protejam a população civil, após o último confronto entre ambos na região de Darfur ter feito pelo menos 161 mortos desde sexta-feira.

"A UE está consternada pelos relatos de confrontos mortais entre comunidades no Darfur Ocidental nos últimos dias e semanas, que provocaram um elevado número de vítimas e a destruição de unidades de saúde", disse em comunicado um porta-voz do alto representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Josep Borrell.

"É tempo de pôr fim à violência e de levar os responsáveis à justiça", acrescentou.

Borrell sublinhou que todos os subscritores do Acordo de Paz de Juba, assinado em outubro de 2020 entre o Governo sudanês e os principais movimentos rebeldes do país, "têm uma responsabilidade conjunta na proteção de civis".

Para a UE, deve ser acelerada a criação e treino de forças conjuntas de manutenção da segurança por parte do Exército do Sudão e os movimentos armados no âmbito do Acordo de Paz.

O porta-voz também manifestou a disponibilidade da UE para dar ajuda humanitária aos necessitados, e pediu às autoridades que facilitem o acesso livre, seguro e sem obstáculos aos agentes humanitários no terreno.

O surto de violência que deflagrou na sexta-feira entre tribos árabes e a minoria étnica africana Massalit na localidade sudanesa de Kreinik, no estado de Darfur Ocidental, deixou 161 mortos, incluindo 17 crianças, após alastrar à capital estatal, Geneina, segundo informaram na segunda-feira autoridades locais e fontes clínicas.

O Darfur, que viveu uma guerra civil de contornos étnicos entre 2003 e 2008, com mais de 300.000 mortos e 1,8 milhões de deslocados e onde havia uma missão de paz da ONU até 31 de dezembro de 2020, é cenário de confrontos tribais frequentes.

O Sudão, que em 2019 emergiu de 30 anos de ditadura sob o regime de Omar al-Bashir, foi palco de um golpe de Estado em 25 de outubro último, que interrompeu o processo de estabelecimento de um governo civil para o período de transição até à realização de eleições.

Militares e civis tinham acordado um calendário para um processo de transição na sequência do derrube do regime de al Bashir em 2019, segundo o qual os generais deviam ter cedido a condução desse processo a meio do período de transição inicialmente estimado, mas golpe militar liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, consumou uma "correção do curso da revolução", segundo o próprio.

Al-Burhan estendeu o seu próprio mandado enquanto chefe das autoridades de transição até à realização de eleições, que prometeu para julho de 2023.

No Darfur, o vácuo de segurança criado pelo golpe de al-Burhan está na origem do ressurgimento da violência.