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UE devia ter-se tornado independente do gás russo na guerra da Crimeia

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Foto EPA

O chefe da diplomacia europeia considerou hoje que a União Europeia (UE) devia ter-se tornado independente da energia russa, como gás, na guerra da Crimeia, há oito anos, e que isso tem de "acontecer já" por afetar a sua segurança.

"Temos ainda uma grande dependência energética da Rússia e deveríamos ter deixado de depender [dos combustíveis fósseis russos, como o gás] em 2014, com a guerra da Crimeia", defendeu Josep Borrell, falando num debate sobre "o nascimento da Europa geopolítica" com a guerra da Ucrânia, promovido pelo grupo de reflexão Conselho Europeu de Relações Externas (European Council on Foreign Relations -- ECFR), em Bruxelas.

"Desde então [da guerra da Crimeia], temos vindo a dizer que temos de diminuir o nosso orçamento energético para a Rússia, mas, em vez disso, temos vindo a aumentá-lo todos os anos", criticou o Alto Representante para a Política Externa, salientando que "agora é o momento de a UE levar isto realmente a sério e fazê-lo funcionar em conjunto, tendo em conta a política climática e a política de segurança".

Avisando que "a segurança europeia depende criticamente do fornecimento de energia", Josep Borrell apontou que, "mais do que nunca, as duas áreas estão agora ligadas".

"Portanto, temos de trabalhar arduamente usando todas as ferramentas disponíveis e isso pode ser possível desde o cidadão comum a fazer algo até uma grande dimensão relativamente à política energética", exortou, defendendo fornecimentos alternativos e aposta em energias mais 'verdes'.

"O perigo para a nossa segurança não irá desaparecer e temos de colocar na nossa mente que precisamos de nos livrar das dependências porque a energia não pode ser uma arma", salientou Josep Borrell.

De acordo com o chefe da diplomacia europeia, isto tem de ser feito não só pela UE, como por outros países, também dependentes ao nível energético da Rússia.

"O mundo deveria todo estar a tentar diminuir a quantidade de dinheiro que a Rússia recebe pelo petróleo e pelo gás e não apenas só nós europeus", concluiu Josep Borrell, no debate promovido pelo ECFR sobre as consequências a longo prazo da guerra na Ucrânia e as novas dimensões do poder geopolítico europeu.

A posição surge numa altura de acentuadas tensões geopolíticas, devido à guerra da Ucrânia, que têm afetado o mercado energético europeu já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.

A Rússia é também responsável por cerca de 25% das importações de petróleo e 45% das importações de carvão da UE.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.179 civis, incluindo 104 crianças, e feriu 1.860, entre os quais 134 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,9 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.

A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.