A guerra. As ditaduras

Estamos num tempo em que nos foi incutida a necessidade de fazer tudo muito rapidamente, tudo sempre a “correr” e tentando “sempre” ocupar todos os “tempos” das nossas 24 horas de cada dia, pelo que, fomos deixando de pensar, por inércia, ou por nem ter tempo para o fazer.

Pensar implica “parar”, desligar o telemóvel, algo que também serve para telefonar, mas tem demasiadas finalidades distractivas para nos ocupar o tempo, de forma muito “igual”, e intuitivamente, sem ter que “perder” tempo a pensar.

E implicitamente, até por “isso”, a memória da guerra e das ditaduras desapareceu, mormente nos jovens na Europa e nos EUA, talvez o que ainda possamos assumir como o Ocidente.

E sem que a pandemia, que tem assolado o Mundo nestes dois últimos anos tenha terminado, a Europa voltou ao terror da guerra.

E se formos ler parte do preâmbulo Declaração Universal dos Direitos Humanos, reconhecida e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro 1948, a tentar evitar que depois do pavor do Nacional-socialismo, do Nazismo, de Hitler, do Holocausto, perdêssemos a tal “Memória e voltássemos à guerra:

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em actos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum…

E como não há memória da guerra facilmente se cria outra, num tempo em que as ditaduras, também por não haver lembrança, quer às esquerdas, quer às direitas estão à espreita.

E tudo isto, um pouco ou até muito por a tolerância de diversas opiniões muitas vezes não satisfazer os que querem uma comunidade fortaleza baseada em visões religiosas únicas, com uma etnia comum e fortes tradições culturais, demasiado homogéneas.

E se até um certo limite, toda a gente tem razão, ao ignorar esse – próprio - limite desliza-se para a catástrofe, de modo a fazer vencer um direito que se julga ser o único com validade, com valor.

E podemos observar os populistas de direita a manifestar admiração por Putin, começando pelo ex-Presidente americano, Trump, que disse que Putin era um “génio” e “muito astuto” após a “sua” invasão da Ucrânia.

A guerra e as suas expressões são o produto da banalização do mal, que é - não o esqueçamos - uma possibilidade sempre real, sempre acessível, sempre praticável, e tão rapidamente posta em prática, nestes tempos tão velozes, sempre necessariamente tão ocupados, sem tempo para pensar, estamos em guerra, e novamente na Europa.

Claro que há, houve, e estão em curso neste preciso momento outras guerras que não só aqui na Europa, mas aqui, como dificilmente se imaginaria voltaria a haver, os tais nossos jovens mas não só os jovens, varreram das suas mentes, se alguma vez tiveram algum efeito neles as reminiscências - até obrigatoriamente estudadas, velozmente - de guerra.

E agora, quando a guerra está no Leste Europeu, quando Putin atira a Federação Russa para a invasão armada da Ucrânia, sente-se que a guerra existe.

E como somos “bombardeados” ao segundo pelos cenários de destruição da Ucrânia, até haver outro motivo para “encher” noticiários, estamos ao momento a ver a guerra.

Mas se calhar pensamos ainda pouco no que é o efeito desta catástrofe nos Seres Humanos, e como o mal humano se sobrepôs mais uma vez e voltamos a conseguir insistir com a guerra na Europa.

E Declaração Universal dos Direitos Humanos, que no seu artigo último termina como se segue, não passa de um montão de letras, sem efeito prático:

Artigo 30: Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

E sabemos como e por onde começou, a Guerra, mas não fazemos a mínima ideia como e onde vai acabar.

Talvez seja este o mote para todos aprendermos ou reaprendermos a pensar, e para tal a ler – verdades e não fake news -, a compreender com calma, que o Mundo não começou agora, a não ter que encher o tempo de tudo e de nada, deixando outros a pensar e a decidir por nós.

A Küttner