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Chega aponta "confusão entre Estado e máquina do PS" e critica saída de Santos Silva

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MÁRIO CRUZ/LUSA

O Chega acusou hoje o primeiro-ministro de criar "confusão entre o Estado e a máquina do PS" e classificou a saída de Santos Silva do Governo, num contexto de guerra na Europa, como "uma certa traição ao país".

Em declarações aos jornalistas no parlamento, o presidente e deputado do Chega, André Ventura, apontou dois "sinais preocupantes" na composição do XXIII Governo, que foi conhecida na quarta-feira.

"Primeiro, esta confusão entre o Estado e a máquina do PS. António Costa fez a opção de colocar em lugares chave da máquina governativa elementos de destaque do PS e até potenciais sucessores. É preocupante António Costa ficar com a pasta europeia, é um sinal que pode querer sair para a Europa", referiu.

Em segundo lugar, apontou a escolha de Fernando Medina para as Finanças como "parecendo uma brincadeira de mau gosto", dizendo que o antigo autarca de Lisboa "não é propriamente um guru das finanças".

"Fernando Medina é uma escolha política de um potencial sucessor de António Costa. Mostra bem o sinal que quer dar ao país de confusão entre o PS e o Estado", disse.

O deputado criticou ainda as alterações feitas na área da Defesa e dos Negócios Estrangeiros.

Sobre Helena Carreiras, atual presidente do Instituto de Defesa Nacional e que será a primeira mulher a tutelar a área, disse que "não se lhe conhecem nenhumas credenciais" de trabalho neste setor.

Nos Negócios Estrangeiros, Ventura criticou duramente que Augusto Santos Silva "abandone o seu lugar para ir para o conforto" da presidência da Assembleia da República, num contexto de guerra na Ucrânia.

"Se me pergunta se é melhor do que Ferro Rodrigues? Não é difícil ser melhor que Ferro Rodrigues. Se é bom para o país? Penso que não, porque era o rosto da diplomacia portuguesa e, neste momento, representa até uma certa traição ao país", afirmou, criticando quer Santos Silva, quer António Costa e dizendo que "Marcelo Rebelo de Sousa não queria esta mudança, muito menos a sua substituição por João Gomes Cravinho".

Ainda assim, André Ventura não quis adiantar se haverá uma orientação de voto aos deputados no partido no nome de Augusto Santos Silva para presidente do parlamento, já que ainda haverá uma reunião da bancada antes da primeira sessão plenária, marcada para terça-feira.

"Mas o Chega não tem por hábito inviabilizar estes lugares de funcionamento do parlamento", acrescentou.

O líder do Chega criticou a continuidade da ministra da Saúde, lamentou a saída de Pedro Siza Vieira - "se havia algum ministro que podíamos apelidar de competente era ele" - e contestou "a manutenção e promoção no Governo" do secretário de Estado João Galamba.

Questionado sobre os objetivos do partido para a próxima legislatura, André Ventura respondeu que será "fazer a oposição que o PSD rejeitou" ser e substituir os sociais-democratas como "principal partido da oposição".

"Vamos ter mecanismos que não tínhamos. Se for necessário apresentar uma moção de censura no futuro vamos fazê-lo", assegurou, dizendo que tal instrumento será usado, por exemplo, se "o Governo tentar controlar a justiça".

Questionado se o Chega poderá apresentar uma moção de rejeição ao programa do Governo, o deputado disse que tal ainda não foi decidido.

"É preciso saber ler os sinais políticos, o PS tem maioria absoluta. O Chega não quer provocar instabilidade e só usará de mecanismos destrutivos caso se justifique", afirmou.

O primeiro-ministro, António Costa, apresentou na quarta-feira ao Presidente da República, a composição de um Governo com 17 ministros, menos dois do que no anterior.

Este é o terceiro Governo chefiado por António Costa e o seu primeiro com maioria absoluta. Pela primeira vez, a composição de um executivo conta com mais mulheres do que homens, excluindo o primeiro-ministro.