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Colômbia vive a pior situação humanitária desde acordos de paz de 2016

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O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) registou a pior situação humanitária da Colômbia desde os acordos de paz de 2016, com mais vítimas de minas anti-pessoais, mais pessoas desaparecidas e milhares de deslocados.

Todos os indicadores relativos à situação humanitária sofreram um agravamento no ano passado, segundo o CICV citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

No que toca a vítimas de engenhos explosivos, o CICV registou 486 casos, dos quais 50 acabaram por falecer, batendo-se assim o recorde das 392 vítimas registadas em 2020.

"O número mais alto dos últimos cinco anos", lamentou Lorenzo Caraffi, chefe da delegação do CICV na Colômbia, numa conferência de imprensa em Bogotá, em que explicou que a maioria das vítimas (53%) é civil e entre elas havia 40 menores.

As minas anti-pessoais são utilizadas pelos traficantes de droga para proteger as culturas de coca, sendo a Colômbia o maior produtor mundial de cocaína, mas também como armas nos vários conflitos internos que persistem no país, apesar do acordo de paz de 2016 com o grupo guerrilheiro marxista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Lorenzo Caraffi explicou que estes conflitos armados levaram à deslocação de cerca de 53 mil pessoas no ano passado, "um aumento de 148% em relação a 2020".

Nas aldeias apanhadas no fogo cruzado, cerca de 45 mil camponeses foram encurralados e forçados ao confinamento, o que representa um aumento de 60% em relação a 2020.

O CICV também registou "uma média de um desaparecimento de dois em dois dias", sendo esta também a pior contagem desde 2016.

Em meio século de conflito armado, cerca de 120 mil pessoas desapareceram na Colômbia, correspondendo a quase quatro vezes mais que o registado durante as ditaduras da Argentina, Brasil e Chile no final do século passado, acrescenta a AFP.

"Estes números são dolorosos, mas não refletem o medo, a incerteza e o desespero que milhares de pessoas estão a experimentar em resultado destes conflitos armados", afirmou Caraffi.

Para o responsável do CIVC, este ano de 2022 poderá "ser ainda mais sombrio", tendo em conta que um quarto das vítimas de minas terrestres ocorridas em 2021 foi atingido nos primeiros dois meses do ano.