O silêncio dos inocentes ou dos cínicos?

A melhor coisa deste Congresso foi a afirmação de Carlos João Pereira de que o PSD é um Partido de Protesto. Quanto ao facto de dizer que a unidade não significava silêncio, tínhamos de falar, mas no partido e não fora dele. Agora vejamos: não ficar em silêncio. É uma boa regra da democracia, mas o que é que disse o cabeça de lista à Assembleia da República quando um militante de base denuncia publicamente o desrespeito da Lei dos Partidos Políticos na sua tentativa de ser candidato a líder do Partido enquanto primeiro subscritor de uma Moção Global de Orientação Política? ZERO! Ele, o anterior presidente do Partido, a anterior Presidente da Comissão Regional, o líder parlamentar, o vice-presidente da ALR indicado pelo partido.

E o que disse a Comissão de Jurisdição Regional aos pedidos de impugnação eleitoral já enviados? ZERO. Ainda hoje recebe um pedido de impugnação do XX Congresso Regional. Responda ou não responda, não julgue a Comissão de Jurisdição Regional que o processo ficará bloqueado. Seguirá até onde tiver de seguir porque assim o determina a Lei e a Constituição.

Que silêncio é este, o silêncio dos inocentes? Nada disso, se não é dos culpados, será de cúmplices, de irresponsáveis, de cínicos? De democratas empenhados é que não é.

Como se diz na terra de meu pai, nos Açores, mas valia ficares calado!

Já quanto ao silêncio de falar fora ou não do Partido, basta ver o que aconteceu neste processo: todas as cartas enviadas à Comissão Organizadora do Congresso, de impugnação à Comissão de Jurisdição, até agora, com conhecimento ao SG, ao então Presidente do Partido, mereceram silêncio em total desrespeito pela regra de participação democráticas. A COC falou no último dia. Para desrespeitar a lei, como sempre o fizera. O que esperava o deputado Carlos João Pereira, que não denunciou? Isso era o que queria Salazar que Mário Soares fizesse. Não lhe vou fazer a vontade como ele não fez ao Salazar, denuncio. E denuncio mais: estavam a prejudicar o Partido ao recusar-se ao diálogo num momento vital para a vida de um partido que é o momento de preparação de um Congresso. Assim como o Governo de Israel desperdiça o enorme capital moral que advinha da sua resistência e martírio na II Guerra Mundial, muitos dos atuais dirigentes do PS estão a depauperar o capital de queixa que os cidadãos socialistas tinham dos governos do PSD, capital que esses cidadãos entregaram ao partido para o usar bem em defesa da Democracia. Quando o líder parlamentar Rui Caetano denuncia as atitudes antidemocráticas do PSD era preciso que ele pudesse dizer que, no interior do partido, esteve atuante e não se calou quando algum militante denunciou falta de rigor no processo eleitoral que conduz ao Congresso, órgão máximo do Partido. Ora o silêncio foi o que imperou. Desafio, finalmente, todos os dirigentes do Partido a quebrar o silêncio perante este processo. Começando pelo deputado Carlos Pereira.

Post Scriptum: ‘tá, o Sérgio foi indigitado para presidente do Partido e o Paulo para presidente da Comissão Regional, mas quem continua a mandar no Partido é o Miguel.

Miguel Fonseca