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Chanceler alemão vai a Kiev e Moscovo tentar "garantir a paz na Europa"

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O chanceler alemão, Olaf Scholz, vai tentar esta semana, em Kiev e Moscovo, ajudar a desanuviar a tensão na Ucrânia, após intensas conversações nos últimos dias suscitadas por alertas sobre a iminência de um ataque russo.

Scholz, que assumiu a chefia do Governo há apenas dois meses, vai encontrar-se com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na segunda-feira, seguindo depois para Moscovo, onde será recebido pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, no dia seguinte.

Na véspera da partida, o chanceler de 63 anos disse que a sua intenção na duas capitais é "agarrar a oportunidade de falar".

"Em ambos os casos, trata-se de ver como podemos garantir a paz na Europa", disse.

A viagem já estava programada no âmbito dos esforços dos líderes ocidentais para tentar resolver a crise, mas ganhou maior significado com a dramatização ocorrida desde sexta-feira.

Os Estados Unidos da América (EUA) disseram ter informações de que a Rússia tenciona invadir a Ucrânia "a qualquer momento", um alerta qualificado como histeria pelas autoridades russas.

Os ucranianos pediram ao Ocidente que evite criar o pânico no país, mas dezenas de governos, incluindo o de Portugal, aconselharam os seus cidadãos a saírem da Ucrânia.

Várias rondas de conversações nos últimos dias não desbloquearam a crise, incluindo conversas telefónicas separadas, no sábado, dos presidentes francês, Emmanuel Macron, e norte-americano, Joe Biden, com Vladimir Putin.

Scholz, o social-democrata do SPD que sucedeu à conservadora Angela Merkel, de quem foi vice-chanceler, tem repetidamente afirmado que um ataque russo terá "consequências muito elevadas" para Moscovo.

Mas a recusa do seu Governo em fornecer armas letais à Ucrânia ou em especificar quais as sanções que apoiará contra a Rússia tem suscitado críticas no estrangeiro e no país, e levantado questões sobre a determinação de Berlim em fazer frente a Moscovo.

A posição relutante da Alemanha está parcialmente enraizada na sua história, sobretudo desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), provocada pelo regime alemão nazi, que levou o país a encarar qualquer resposta militar como um último recurso.

Outro fator histórico é a "Ostpolitik", ou Política do Leste, adotada pelo antigo chanceler do SPD Willy Brandt na década de 1970, para dialogar com a então União Soviética, que também tem sido apontada como uma condicionante na relação com Moscovo.

O antigo chanceler social-democrata Gerhard Schroeder (1998-2005) é visto como outro problema para Scholz, devido à sua amizade estreita com Putin e ao seu envolvimento no gasoduto Nord Stream 2.

Schroeder assinou o primeiro gasoduto entre a Rússia e a Alemanha nas suas últimas semanas de mandato, e dirige atualmente o comité de acionistas da empresa responsável pelo projeto.

O antigo chanceler é presidente do conselho de administração da gigante petrolífera russa Rosneft e a também estatal Gazprom, proprietária do Nord Stream do lado russo, anunciou este mês a sua nomeação como administrador.

"Schroeder é um fardo para a política externa alemã e para o seu antigo partido", escreveu recentemente a revista alemã Der Spiegel.

Depois de muito instigado pelos Estados Unidos e outros aliados, Scholz endureceu recentemente a sua posição sobre possíveis sanções à Rússia, incluindo a suspensão do gasoduto.

No que foi visto igualmente como um endurecimento da posição alemã, o também social-democrata Frank-Walter Steinmeier apontou hoje o dedo a Moscovo no primeiro discurso após ter sido reeleito Presidente da Alemanha.

"Estamos no meio de um risco de conflito militar, de uma guerra na Europa de Leste e é a Rússia que tem essa responsabilidade", disse Steinmeier, que chefiou a diplomacia alemã duas vezes com Merkel e foi chefe de gabinete de Schroeder.

E numa mensagem direta para Putin, Steinmeier foi claro: "Não subestime a força da democracia".

Scholz também reiterou hoje que a Ucrânia pode continuar a contar com o apoio da Alemanha e disse que Berlim tem fornecido a Kiev "o maior apoio financeiro" a nível bilateral.

Fontes do Governo alemão admitiram que Scholz poderá anunciar em Kiev novos apoios financeiros, bem como a entrega de equipamento militar não letal.