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Europeus acreditam em invasão e querem NATO e UE a apoiar Kiev

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Foto EPA

A maioria das pessoas na União Europeia acredita que a Rússia vai invadir a Ucrânia e defende que a NATO e a UE devem ajudar as autoridades ucranianas, de acordo com um inquérito divulgado hoje.

O inquérito, promovido pelo 'think tank' (grupo de reflexão) Conselho Europeu das Relações Externas (ECFR, na sigla em inglês), mostra também que os europeus veem a questão como um problema não só para a Ucrânia, mas para a segurança europeia em geral.

"A crise Rússia-Ucrânia pode revelar-se um ponto de viragem para a segurança europeia", disse o diretor do ECFR e um dos autores do estudo, Mark Leonard, citado numa nota à imprensa.

O estudo do ECFR tem por base as respostas a um inquérito 'online' de 5.529 pessoas na Alemanha, Finlândia, França, Itália, Polónia, Roménia e Suécia entre 21 e 30 de janeiro, sobre a crise ucraniana.

Os sete países representam, em conjunto, quase dois terços da população da União Europeia (UE), assinalam os autores.

O Ocidente acusa a Rússia de ter concentrado dezenas de milhares de tropas na fronteira da Ucrânia para invadir novamente o país, depois de lhe ter anexado a península da Crimeia em 2014.

O Presidente russo, Vladimir Putin, nega qualquer intenção bélica, mas condiciona o desanuviamento da crise a exigências que diz serem necessárias para a segurança da Rússia, incluindo garantias de que a Ucrânia nunca fará parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Os autores do inquérito do ECFR concluíram que as respostas mostram uma mudança de sentimento entre os europeus, com a maioria a confiar mais na NATO e na UE para ajudar a Ucrânia do que nos Estados Unidos da América (EUA).

"Os dados que recolhemos sugerem algo como um despertar geopolítico na Europa", disse Mark Leonard.

Ivan Krastev, o outro autor do estudo, disse que o inquérito mostra que a opinião pública europeia "é um fator que reforça, em vez de enfraquecer, a determinação da UE em responder no caso da invasão da Rússia na Ucrânia".

A crise ucraniana ocorre numa altura em que a UE está a finalizar a discussão sobre a chamada "Bússola Estratégica", a nova política de segurança e defesa que o Conselho Europeu deverá adotar na cimeira de março, em Bruxelas.

Também a NATO se prepara para aprovar um novo conceito estratégico na cimeira de Madrid, em junho deste ano, para substituir o documento aprovado em Lisboa, em 2010.

Segundo o inquérito, a maioria das pessoas acredita numa invasão russa da Ucrânia ainda este ano, exceto na Finlândia, um país da UE que faz fronteira com a Rússia, mas que não integra a NATO, tal como a Suécia.

Os dados mostram também que ao contrário de 2014, quando a Rússia invadiu e anexou a Crimeia, os "europeus veem o conflito na Ucrânia como uma crise europeia".

Na Polónia, "por razões históricas e geográficas, os inquiridos veem a perspetiva de uma invasão russa como uma crise existencial", assinalam os autores do estudo.

As respostas permitiram também concluir que os europeus estão preparados para suportar as consequências de uma possível invasão, incluindo a chegada de refugiados ucranianos, o aumento dos preços da energia, os ciberataques, a recessão económica e as ameaças de novas ações militares russas.

"Se Putin ameaçou a Ucrânia para forçar os europeus a pensar na viabilidade da ordem de segurança europeia, conseguiu. Mas, a julgar pelos resultados da mais recente sondagem do ECFR, o Presidente russo pode ficar surpreendido por a maioria dos europeus parecer estar pronta a defender a Ucrânia", concluem os autores do estudo.

O inquérito 'online' foi realizado pela Datapraxis, AnalitiQs e Dynata, com uma margem de erro de 3% para uma amostra de 1.000 e de 4% para uma amostra de 500, segundo a ficha técnica do estudo.