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Reforçar os recursos humanos nos cuidados de saúde

A perda de vidas por excesso de trabalho nem sempre tem uma correlação direta

Os profissionais que sustentam o Serviço Regional de Saúde viram as suas vidas e condições de trabalho agravadas por um contexto pandémico que determinou a reorganização de serviços, a redefinição de equipas, aumento exponencial do trabalho suplementar, dificultando a conciliação da atividade profissional com a vida individual e familiar originando possíveis alterações psicossomáticas que só serão avaliadas a médio e longo prazo.

A Covid 19 levou os trabalhadores do setor a responder repentinamente a uma situação de dimensões e impactos nunca antes vivenciado, com maior predominância em determinados grupos, nomeadamente os assistentes operacionais e os enfermeiros, que pela natureza do exercício das suas funções e o tempo de permanência e proximidade com os casos de doença, expôs mais o risco de contágio num tempo de incerteza apesar de todas as medidas de prevenção adotadas.

Decorridos quase dois anos de pandemia mantém-se o aumento da carga de trabalho assim como o esforço despendido, os cansaços acumulados colocaram à prova a capacidade e a resistência dos profissionais, num contexto limite que só é possível superar com a urgente admissão de novos trabalhadores nomeadamente assistentes operacionais e enfermeiros para minimizar o aparecimento de possíveis doenças crónicas irreversíveis ou desfechos fatais.

A perda de vidas por excesso de trabalho nem sempre tem uma correlação direta, é uma temática pouco divulgada por vezes até escondida, no entanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem vindo persistentemente a alertar para o problema, havendo cada vez mais estudos sobre esta temática.

Os principais fatores de risco são jornadas diárias de trabalho sistematicamente prolongadas sem os devidos períodos de descanso, o stress laboral, “o estar sempre ligado”, a desregulamentação de horários, com uma carga horária que ultrapassa as 60 horas semanais, situações que originam hipertensão e a probabilidade de eventos cárdio e cerebrovasculares. Alguns dados apontam para mais de 400 mil pessoas perecidas por ano por acidente cerebrovascular e mais de 350 mil por cardiopatia isquémica, entre outros perturbações de saúde, atingido maioritariamente o sexo masculino.

Este tipo de problemas laborais tem designações diferentes nos vários países, por exemplo no Japão o termo “karoshi” é utilizado para definir a morte por excesso de trabalho e caracteriza-se por um quadro clínico extremo que pode levar à morte súbita, o primeiro caso remonta ao final da década de sessenta do século passado, havendo estatísticas sobre o problema a partir da década de oitenta. Na comunidade europeia o acompanhamento e o estudo do fenómeno têm aumentado nas últimas décadas, havendo descrição da situação em empresas de vários países.

A morte por excesso de trabalho é uma situação inaceitável, coloca em causa a dignidade do trabalho humano e contraria os direitos alcançados no mundo laboral em particular dos profissionais de saúde nas últimas décadas, representando um retrocesso civilizacional, pelo que é urgente identificar as situações de forma a prevenir e combater as suas causas.