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Unesco retira "Ducasse d'Ath" da lista de património mundial por alegado racismo

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A UNESCO decidiu hoje retirar da lista de património cultural imaterial da Humanidade o 'Ducasse d'Ath', na Bélgica, festival em que um "Selvagem" aparece com maquilhagem preta e correntes nos pulsos.

Vários países africanos levantaram a questão na 17.ª sessão do Comité do Património Imaterial da UNESCO em Rabat, com os delegados a debaterem, em particular, o contexto do movimento "Black Lives matter" ('Vidas negras importam') nos Estados Unidos, bem como a crise dos migrantes.

"Somos universalistas. Este elemento [o caráter do festival] não pode ser aceite pela UNESCO. Sou africano e estou profundamente chocado com estes sinais", declarou o representante permanente de Marrocos e presidente da sessão, Samir Addhare.

A própria Bélgica "condenou todas as formas de racismo e discriminação" durante a sessão, dizendo-se "consciente da gravidade da situação" e convidando a cidade de Ath a refletir sobre a mensagem que o seu festival transmite.

Mas Bruxelas, perante os comentários geralmente unânimes, solicitou oficialmente a retirada antes que a decisão fosse adotada.

Alguns integrantes, porém, manifestaram o desejo de que além dessa decisão, o personagem infrator seja afastado do festival.

O 'Ducasse d'Ath', na Valónia (sul), existe desde o século XVI e reúne dezenas de milhares de pessoas no último fim de semana de agosto, culminando na procissão dominical da qual o "Selvagem" é a estrela.

A procissão foi classificada pela Unesco em 2008 como património cultural imaterial da Humanidade, integrada no "elemento Gigantes e Dragões Processionais da Bélgica e França", segundo o organismo da ONU com sede em Paris.

Várias organizações manifestaram-se nos últimos anos contra os símbolos que a procissão transmitia.

Em agosto de 2019, o coletivo antirracista Bruxelles Panthères colocou em circulação uma petição contra uma prática assimilada ao "rosto negro" - o facto de um homem branco se apresentar maquilhado como uma pessoa de cor - e denunciada como "um vestígio do período da escravatura".

No final de 2019, a UNESCO já havia retirado da sua lista de património cultural imaterial da Humanidade o carnaval belga de Aalst, acusado de antissemitismo.

Nessa ocasião, foi a primeira vez que a organização tomou tal decisão, desta vez olhando para a presença no desfile de um carro alegórico caricaturando judeus ortodoxos de nariz adunco, sentados em sacos de ouro, que indignaram representantes da comunidade judaica da Bélgica, que tem cerca de 40.000 pessoas.