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O dia da Filosofia

A busca de “sentido” parece ser uma das necessidades, ou exigências primárias de todo o ser humano

Dia 17 de novembro é o Dia Mundial da Filosofia e pretendo, aqui, mostrar que mais do que nunca ela é fundamental nas nossas vidas. A pandemia trouxe a possibilidade da morte, uma verdadeira roleta russa chamada Covid-19. O nosso isolamento, durante dois anos, foi uma aprendizagem para o melhor e para o pior que temos como humanos e que nos levou, uns mais que outros, a perguntar pelo sentido de tudo isto.

A busca de “sentido” parece ser uma das necessidades, ou exigências primárias de todo o ser humano. Ela é a pergunta sobre o que fazemos e do que somos, assim como ela é sentido pelo sentido do mundo e da vida e é esse questionamento que nos obriga à surpresa, à alegria, mas, também, à deceção.

Mesmo aqueles que vivem uma existência muito preenchida pelo trabalho, pela profissão, ou pelas muitas outras atividades a que se dedicam, de vez em quando, se não com grande frequência, vêem-se confrontados com a questão do sentido. Uma preocupação que, às vezes, irrompe de forma dramática e angustiante, pelo menos ante experiências como o sofrimento, a doença incurável, ou a ameaça iminente da morte.

“Efectivamente, hoje em dia, o psiquiatra vê-se confrontado com enfermos - não deveria dizer “não enfermos”? - que se queixam de um sentimento de falta de sentido. Nas minhas mãos tenho uma carta da qual quero citar o seguinte parágrafo: “Tenho 22 anos, tenho um curso universitário, possuo um automóvel luxuoso, disfruto de uma situação económica segura, e tenho à minha disposição mais sexo e mais poder do que aquele de que posso usufruir. Somente me pergunto, que sentido tem tudo isto?” (Frankl, Viktor).

O sentido da existência é algo que pode, obviamente, ser objeto de pensamento e de racionalização, mas antes de ser objeto da razão, ele encontra-se como pré-configurado pela experiência que nos vem dos sentimentos. É que o sentido da existência, antes mesmo de ser pensado, é sentido e experienciado. Sendo a questão do sentido uma questão de experiência e de sentimento, poderemos perguntar qual o enquadramento e cabimento para falar sobre ela. Ou seja, não podemos proceder a uma teorização/ racionalização do sentido, procurando-o em teorias e especulações emanadas de outras experiências de sentido que não as nossas. O sentido da existência não é um dado fenoménico ou um facto empírico e concreto que a ciência possa investigar com o seu método experimental. O sentido da vida furta-se, escapa ao conceito e à medida. “O sentido da vida é algo que apenas posso sentir, tentar pô-lo em palavras (pensá-lo) é fazer com que desapareça” (Teixeira de Pascoaes).

Aqui pode-se questionar a necessidade ou a pertinência deste artigo de opinião em si mesmo. Ou seja, ele acaba por ser uma visão teórica sobre o sentido sabendo, de antemão, que não é pelo espartilhar do termo “sentido” que o mistério da existência se clarifica. Interessa-me partilhar, com o leitor, que a reflexão filosófica tem como uma das preocupações primordiais a identidade do nosso próprio ser. A pergunta pelo sentido da nossa própria existência pode, de algum modo, ser reduzida à questão da relação que existe (ou não) entre o que somos e o mundo de que fazemos parte. Ou seja, por vezes a nossa vida parece ser um labirinto infinito, onde nos sentimos perdidos. Talvez seja aqui, que a Filosofia seja a mão que nos levanta e a orientação que nos falta.

Que a Filosofia nunca morra no espírito humano.