Não se pode desatar um nó sem saber como ele é feito

Ponto prévio. Não se interprete uma opinião como sinónimo de acusação.

Posso não ser nota dez, mas considero que estou longe da nota zero, passe a imodéstia.

Não me cairão os parentes na lama se confessar a minha quase total ignorância relativamente a alguns assuntos/situações do domínio público. Sou suficientemente humilde para reconhecê-lo. Ignorância é não saber. Escolher a ignorância é burrice.

Respeitando as minhas limitações formulo, à luz do que vejo, ouço e leio, as minhas próprias opiniões.

Antecipadamente peço desculpa se, eventualmente, pelo que escrevo vier a ferir susceptibilidades e induzir alguém a fazer juízos de valor que não pretendo. Não é esse o meu propósito. Não sou advogada de defesa de ninguém, nem tão pouco advogada de acusação. Quando não sei,p rocuro saber .Tenho dúvidas. Muitas. Inquietações, tantas ou mais.

No dia 28 de Outubro p.p. celebtrou-se o segundo ano de classificação do Porto Santo enquanto Reserva da Biosfera.

"A Reserva da Biosfera é um laboratório ao ar livre, um espaço de aprendizagem aberto a todos". Pois bem, depreendo que para preservar é necessário conhecer/saber. Qualquer um de nós é capaz de pronunciar a palavras reserva e biosfera mas muitos, com certeza, não saberão o alcance do seu significado e importância na e para a localidade que recebeu esse distintivo da Unesco.

A população, de um modo geral,foi esclarecida, informada e orientada no sentido de contribuir positivamente ,de acordo com os objectivos preconizados para uma Reserva da Biosfera?

Durante dois anos que mudanças de fundo se operaram e que medidas estruturantes foram implementadas, com resultados visíveis na nossa comunidade?

A população sabe onde, quando e como agir em conformidade, para que haja o desejável equilíbrio entre a conservação da Natureza e a acção humana? Não me parece, tendo em conta as respostas que se ouve quando se coloca essa questão, e os atentados ambientais que continuam a acontecer.

Será que meia dúzia de carros eléctricos a circular constituirá motivo de regozijo, atendendo ao elevado número de veículos existentes na ilha, para fazer do Porto Santo uma ilha livre de combustíveis fósseis?

E como actuarão em relação aos milhares de automóveis, camiões, motorizadas e outros que diariamente chegam ao Porto Santo, na época balnear?

E na empresa de electricidade, desligarão as máquinas que produzem a energia térmica, cujo combustível é o fuéloleo? Quanto ao projecto “Life Dunas” o que me apraz dizer, depois de ter visto uma duna a ser regada de mangueira, é que já espero tudo.

Segundo uma notícia veiculada por um órgão de comunicação social escrita, na região, para reflorestar as dunas da Calheta, numa área de aproximadamente 6,47 há (sessenta e quatro mil e setecentos metros quadrados) foram reproduzidas em viveiro 39000 (trinta e nove mil) plantas endémicas. Este projecto envolveu o montante de 3.000.000 € (três milhões de euros). Quanto não importará, então, a restauração do cordão dunar, em quase toda a extensão da praia, esse sim, com uma necessidade extrema de uma intervenção urgente?

Galardoada como a melhor praia da Europa, e como uma das sete maravilhas do mundo, na categoria de praia de dunas, não se compreende porque o nosso ex-libris se encontra tão pouco cuidado, quando seria exigível a sua máxima preservação.

Acredito em projectos. Em projectos bem elaborados e susceptíveis de exequibilidade. Que se traduzam principalmente em mais valias para o fim a que se propõem e para quem são vocacionados e não para alguns apenas.

Contactei, noutro contexto, com projectos delineados ao mais ínfimo pormenor, mas cujo principal objectivo era a conquista de uma excelente nota quando sujeitos a avaliação inspectiva. Na prática, fracasso quase total porque se privilegiou o acessório em detrimento do essencial. O parecer prevalece sobre o ser, invariavelmente, na maioria dos casos. Acredito nas pessoas, nem que seja pelo benefício da dúvida, acredito em discursos e oratória eloquentes se, à posteriori, se traduzirem em acções concretas.

Esta é uma abordagem ligeira, duma leiga na matéria. Não ponho em causa o trabalho e o voluntarismo de quem quer que seja. Porém, sou como S.Tomé. Vendo, para crer. E tenho razões para isso.

Esta é a minha visão dos factos e não tenho a presunção de pensar sequer que está correcta.

Em determinadas circunstâncias, a "ignorância"até pode ser uma bênção.

Madalena Castro