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Bloqueios feitos por camionistas pró-Bolsonaro chegam ao fim no Brasil após apelos do PR

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Foto EPA/Sebastiao Moreira

Os bloqueios de estradas feitos por camionistas brasileiros que exigem a dissolução do Supremo Tribunal Federal (STF) chegaram ao fim na tarde de hoje após apelos do Presidente, Jair Bolsonaro, informou o Ministério da Infraestrutura do país.

De acordo com a tutela, há ainda "pontos de concentração" de camionistas em estradas de 13 das 27 unidades federativas do país, "mas não há registos de interdições", tendo em conta dados da Polícia Rodoviária Federal.

"A Polícia Rodoviária também zerou [eliminou] a lista de pontos sensíveis com algum impedimento da saída ou entrada de camiões", acrescentou o Ministério na rede social Twitter.

A desobstrução das vias começou a ser feita após apelos lançados por Jair Bolsonaro, a quem os camionistas em protesto apoiam.

Numa declaração de áudio divulgada pelos 'media' brasileiros, Bolsonaro destacou que as interdições causam problemas no abastecimento de produtos e inflação.

"Diga aos caminhoneiros [camionistas] que eles são nossos aliados, mas esses bloqueios prejudicam a nossa economia. Isso causa desabastecimento, inflação, prejudica a todos, principalmente os mais pobres", disse Bolsonaro, que na terça-feira liderou protestos em Brasília e São Paulo, nos quais fez ameaças às instituições, nomeadamente do setor judiciário.

Contudo, apesar de o Governo brasileiro informar que os bloqueios chegaram ao fim, camionistas que foram recebidos por Bolsonaro em Brasília declararam que os camiões só sairão das estradas se as suas reivindicações contra o STF avançarem.

Um dos motoristas que falou à imprensa indicou que pretende uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para tratar da atuação do Supremo.

O bloqueio começou na terça-feira, 07 de setembro, quando Bolsonaro liderou massivas mobilizações em defesa da "liberdade" e contra o Judiciário, nos quais o Presidente mostrou que mantém a sua base de seguidores mobilizada.

O próprio chefe de Estado chegou a exortar os seguidores a desobedecerem a sentenças do STF, que o investiga por difundir notícias falsas e já levou alguns dos seus aliados à prisão.

A afirmação de Bolsonaro foi repudiada por todos os partidos políticos, Congresso e o Supremo Tribunal Federal, cujo presidente, Luiz Fux, garantiu que "ninguém vai fechar" aquele tribunal e alertou que o incumprimento de sentenças judiciais é um crime que, no caso de Bolsonaro, pode levar à sua destituição.

Contudo, apesar dos bloqueios terem sido feitos em algumas das principais estradas do país, alguns dos camionistas presentes reclamaram de terem sido forçados a aderir à manifestação pró-Bolsonaro.

"É simplesmente uma pauta política, sem comando nenhum, pessoas ligadas ao atual Presidente aí, fazendo essa arruaça", desabafou ao jornal Estadão o camionista Rafael Alves de Carvalho, de 38 anos, que revelou ter sido recebido uma abordagem ameaçadora, sentindo-se obrigado a parar o veículo.

"Eu estava indo embora para minha casa e fui obrigado a parar aqui. Não tem uma pauta de reivindicação para os caminhoneiros [camionistas], infelizmente. É uma paralisação política. Não vejo futuro nenhum [no movimento] para nós. Não tem discussão de preço do óleo diesel, do gás de cozinha, redução no preço de alimento. É simplesmente uma pauta política", reforçou.

Situação semelhante foi relatada pelo motorista Wilson Jesus dos Santos, de 60 anos, que encontrava parado num dos bloqueios há mais de 13 horas, tendo passado a noite à beira da estrada, sem alimentação.

"Sou camionista há 20 anos e nunca participei em manifestação nenhuma, nem pensava em participar, mas me abordaram", contou ao Estadão, acrescentando que temeu furar o bloqueio, uma vez que estava com um camião-tanque de combustível.