Madeira

Homicida alega legítima defesa: “Ele apertou-me o pescoço. Era um monstro”

O arguido, que está em prisão preventiva, começou hoje a ser ouvido no tribunal do Edifício 2000.
O arguido, que está em prisão preventiva, começou hoje a ser ouvido no tribunal do Edifício 2000., Arquivo

Iniciou-se, esta manhã, no Juízo Central Criminal do Funchal (Edifício 2000), o julgamento de José Luís, o arguido de 64 anos que é acusado de ter matado a tiro um homem e disparado para a perna de outra pessoa num bar da Rua das Hortas na noite de 20 de Novembro de 2020.

O arguido quis prestar declarações perante o colectivo de juízes presidido por Carla Meneses, tendo alegado legítima defesa para justificar os seus actos. José Luís confirmou ter discutido com o cidadão de origem guineense José Carlos, conhecido como Carlão, porque este exigia que lhe pagasse as bebidas alcoólicas consumidas no bar.

O arguido garantiu que foi ameaçado pela vítima, que esta “apertou-lhe o pescoço duas vezes” e teve medo devido à compleição física do oponente, que “era um monstro”. Só reagiu quando Carlão veio novamente na sua direcção: “Eu nunca quis atacar ninguém. Só depois de ser atacado várias vezes é que eu reagi. Ele apertou-me o pescoço. Se eu não disparasse, de certeza que hoje eu não estava aqui. Era um gigante comparativamente comigo”.

As declarações de José Luís suscitaram muitas dúvidas às três juízas que compõem o colectivo, bem como à procuradora da República, devido a relevantes contradições em relação aos factos descritos na acusação do Ministério Público.

O arguido desmentiu alguns pormenores e sobre outros alegou falta de memória. Por exemplo, negou ter-se ausentado do bar após a discussão para ir ao carro (estacionado na Rua Elias Garcia) buscar a arma que utilizaria depois nos crimes e disse não se recordar de um encontro com um homem que testemunhou essa deslocação e que supostamente foi ameaçado por José.

A versão do arguido é que nunca abandonou o bar e que já trazia no bolso o revólver, o qual, justificou, foi comprado há muitos anos em Lisboa e que tinha encontrado recentemente no escritório. Também negou ter procurado matar uma segunda vítima no interior do bar.

O que aconteceu, afirmou, é que a arma disparou-se acidentalmente, tendo a vítima sido atingida numa perna. As magistradas confrontaram o arguido com imagens do sistema de videovigilância do bar que desmentem total ou parcialmente a sua versão dos acontecimentos.

Em relação a isso, José Luís escudou-se na falta de memória. Mais tarde, quando respondia às questões do seu advogado, o arguido, que tem experiência profissional em equipamentos de videovigilância, admitiu a possibilidade das imagens das câmaras do bar terem sido manipuladas, com alteração da sequência temporal.

Este julgamento prossegue ao longo de todo o dia. Entre as testemunhas estão várias pessoas que se encontravam no interior do bar na data dos crimes.