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Líder dos talibãs pede ao novo Governo para respeitar lei 'sharia'

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O líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada, cujas intervenções públicas são muito raras, pediu hoje ao Governo afegão, anunciado pelos talibãs, que respeite a lei 'sharia' (sistema jurídico do Islão com origem no Corão).

"Garanto a todos os nossos concidadãos que os governantes trabalharão duramente para manter as regras islâmicas e a lei 'sharia' no país", disse o Hibatullah Akhundzada, num comunicado em inglês que constitui a sua primeira mensagem desde que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão, há mais de três semanas.

Os talibãs anunciaram hoje que Mohammad Hassan Akhund vai assumir a chefia do novo Governo afegão, enquanto o cofundador dos talibãs Abdul Ghani Baradar será o número dois do novo executivo.

Segundo a agência noticiosa norte-americana Associated Press, o 'mullah' Hassan Akhund chefiou o Governo dos talibãs durante os últimos anos do seu anterior regime (1996-2001) e o 'mullah' [designação dada a um muçulmano, educado na teologia islâmica e na lei sagrada] Baradar, que liderou as negociações com os Estados Unidos e assinou o acordo para a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, é um dos seus dois adjuntos.

Os talibãs tinham indicado há uma semana que estavam quase concluídas as rondas de consultas para a formação do novo Governo, que se tornou mais urgente após a partida, a 31 de agosto, do último avião com soldados norte-americanos.

Após quase duas décadas de presença de forças militares norte-americanas e da NATO, os talibãs tomaram o poder em Cabul a 15 de agosto, culminando uma rápida ofensiva que os levou a controlar as capitais de 33 das 34 províncias afegãs em apenas dez dias.

Desde então, os combatentes islamitas radicais asseguraram em várias ocasiões a intenção de formar um Governo islâmico "inclusivo", que represente todas as tribos e etnias do Afeganistão.

A comunidade internacional advertiu que julgará o movimento fundamentalista pelas suas ações, nomeadamente quanto às promessas de respeitarem os direitos das mulheres.

Sinal da desconfiança em relação às suas palavras são as manifestações organizadas nos últimos dias em Cabul por ativistas, bem como por afegãos que denunciaram a violenta repressão do regime na região de Panshir, onde se encontra uma bolsa de resistência armada aos talibãs.

Duas pessoas foram hoje mortas e oito ficaram feridas por balas durante uma manifestação contra o regime em Herat, uma grande cidade no oeste do Afeganistão, segundo avançou à agência de notícias francesa AFP um médico que pediu anonimato.

Vários protestos denunciando em particular a repressão violenta do novo regime talibã na província de Panchir e a interferência do Paquistão, muito próximo dos islâmicos no poder, nos assuntos afegãos, ocorreram nos últimos dias, principalmente em Cabul, Herat e Mazar-i-Sharif (norte).