Desporto

João Rodrigues, perdeu-se um engenheiro e ganhou-se um recordista olímpico

Madeirense presidente da Comissão de Atletas Olímpicos fala sobre a carreira, em vésperas de Tóquio2020

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Foto Facebook/João Rodrigues

O velejador João Rodrigues queria ser engenheiro, mas a vela e o olimpismo trocaram-lhe os planos, acabando por dedicar boa parte da vida a estas paixões, que o fizeram representar Portugal um recorde de sete vezes em Jogos Olímpicos.

"Em vez de serem percursos antagónicos e de se prejudicarem, descobri que a carreira desportiva me dava aquela capacidade de resiliência, de nunca desistir, de estabelecer um objectivo e de ir até final para o cumprir" João Rodrigues, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO)

O madeirense nascido em 02 de janeiro de 1971 começou a sua epopeia olímpica em Barcelona1992 com o 23.º posto na classe Lechner e o entusiasmo da experiência levou-o a aplicar-se a fundo para ser bem-sucedido nas duas carreiras, com o foco em Atlanta1996

"Nos três anos seguintes a Barcelona, de certa forma, os caminhos desportivo e universitário complementaram-se. Por outro lado, o percurso universitário exercitava-me um músculo que dificilmente o conseguia fazer na vela, que era o cerebral", disse à Lusa, no Rio2016, considerando na altura que nesse período viveu os "melhores anos" da sua vida.

João Rodrigues não falhou nenhuma edição do maior evento desportivo do mundo desde que se estreou, acabando o seu percurso ao mais alto nível aos 44 anos, no Brasil, onde obteve o 11.º lugar, a dois pontos do 10.º e da desejada medal race de RS:X.

Este especialista de prancha à vela tinha sido sétimo em Atlanta1996, 18.º em Sydney2000 e sexto em Atenas2004, em Mistral.

Entretanto, em Pequim2008 passou para a RS:X sendo 11.º, numa classe na qual foi 14.º em Londres2012, antes do 11.º no Brasil, pelo que, em jeito de resumo, ofereceu a Portugal dois diplomas olímpicos, com classificações até ao oitavo lugar.

O porta-estandarte português no Rio2016, que estava há uma década sem exercer engenharia, iniciou-se na modalidade em 1980, com nove anos, e em 1987 participou na sua primeira prova fora de Portugal.

Ao longo de uma carreira internacional de quase três décadas, conquistou mais de meia centena de medalhas, 22 das quais de ouro.

Com sete participações olímpicas, o seu estatuto de exclusividade só poderá ser ameaçado pelo marchador João Vieira, que integra um octeto de perseguidores, com cinco presenças, mas que em Tóquio2020 conseguirá a sexta.

O marchador riomaiorense de 45 anos poderá igualar o feito de João Rodrigues se, entretanto, conseguir vaga para Paris2024, o que lhe permitiria estar no mesmo patamar do velejador.

"Se é a despedida olímpica? É... nunca mais vou fazer isto ao meu corpo, nem à minha mente. É a despedida", anunciou João Rodrigues, após a derradeira regata olímpica da sua vida, para a qual assume não ter desenhado um "plano B".

Além de João Vieira, somam cinco participações olímpicas Fernanda Ribeiro, campeã olímpica dos 10.000 em Atlanta1996 e bronze em Sydney2000, o cavaleiro Henrique Calado, João Rebelo no tiro com armas de caça, Duarte Bello e Gustavo Lima na vela, Susana Feitor no atletismo e João Costa no tiro.