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Na Madeira, em Portugal

Os próximos anos não podem ser uma oportunidade perdida

As comemorações oficiais do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no Funchal constituíram motivo de orgulho de todos os madeirenses, não apenas pelo significado simbólico da comemoração e da presença dos órgãos de Estado na Região, mas também por ser uma celebração da Autonomia, instituída na Constituição de 1976, e que tinha como deputado na Assembleia Constituinte o atual Presidente da República, Dr. Marcelo Rebelo de Sousa.

A comemoração do Dia de Portugal no Funchal, que estaria para se realizar em 2020 tendo sido adiada devido à pandemia, pontuou também aquelas que foram as comemorações dos 600 anos da descoberta da Madeira e do Porto Santo, uma marcante referência que orgulha todas e todos os cidadãos.

Julgo que é um bom momento para refletirmos de uma forma positiva sobre o nosso futuro coletivo e sobre as ambições dos madeirenses como povo insular, ao invés da atitude agressiva e contenciosa por parte do poder instalado na região. Já ouvimos e lemos nos últimos dias intervenções de várias personalidades, em particular das que sempre estiveram no poder, e simplesmente é mais do mesmo.

A Região Autónoma da Madeira enfrenta hoje desafios que implicam rigor, competência, e coragem política para assumir as mudanças estruturantes necessárias nas diversas áreas de governação.

A crise pandémica trouxe a certeza que não poderemos voltar ao passado recente. Não devemos querer voltar onde estávamos em fevereiro de 2020, mas sim provocar as mudanças necessárias para um novo futuro. Mas um futuro para as pessoas, os jovens e famílias, e não os interesses empresariais de sempre!

É necessário um novo ciclo de desenvolvimento, sustentado na diversificação da nossa base económica, aumento da produção regional, com aposta na qualificação, na inovação e tecnologia, e em políticas e projetos que tenham sempre em conta a sustentabilidade ambiental e social. Falta mais acção governativa e menos propaganda...

Apenas conseguiremos criar emprego e fixar os jovens e famílias se houver coragem para apostar e investir em novas áreas que tragam valor acrescentado, empregos bem remunerados, e que façam da Madeira uma economia diferenciada e resiliente.

O Sr. Presidente da República fez do Mar um dos principais temas do seu discurso do 10 de Junho. Na Madeira ao longo dos últimos anos muito se falou na aposta na Economia do Mar, mas a realidade é que de acordo com a conta satélite referente a 2016-2017 este sector representou 10,3% do VAB regional, no entanto 77,5% do mesmo advém de atividades turísticas, representando 75,4% do emprego. Tudo o resto, e falamos da pesca, aquacultura, reparação naval, atividade portuária, transportes marítimos, obras costeiras, entre outras, representam apenas 19,8% da economia do Mar na Região, ou seja, apenas 2% do VAB da Região! Até num sector que todos os quadrantes designam de estruturante para o futuro da região, assistimos a uma total dependência do Turismo.

E se em período de crise pandémica toda a atividade turística foi devastada, a construção civil manteve-se com a constante encomenda de empreitadas de obras públicas, gerando empregos na sua esmagadora maioria pouco qualificados e mal remunerados. Não saímos deste ciclo. É importante? Sim. Mas é preciso mais.

Uma base económica cada vez mais diversificada, potenciando novos investimentos em áreas inovadoras, com um sistema fiscal competitivo, e onde o Turismo tenha condições de continuar a crescer, de forma sustentada e sustentável, tem de ser um desígnio coletivo, e o próximo Quadro Comunitário de Apoio 2021-2027 terá um papel fundamental neste mesmo desiderato, onde teremos 1.9 Mil Milhões de Euros de verbas europeias, incluindo do REACT e do Plano de Recuperação e Resiliência.

Teremos acesso a financiamento como nunca antes. Os próximos anos não podem ser uma oportunidade perdida.

Uma palavra para as nossas Comunidades na Diáspora, naquele que também foi o seu dia, que tiveram um dia de sair da sua terra em busca de melhores condições de vida, espero que igualmente um dia tenham oportunidade de regressar e serem felizes.

Viva Portugal!