Crónicas

Adão e o fruto proibido

Mais uma vez se recorre aos aparelhos políticos e à máquina de propaganda para cargos que deveriam ser de desígnio nacional

Pedro Adão e Silva, o professor e conhecido comentador televisivo que saltou para a ribalta sobretudo pelos seus comentários desportivos e pela acérrima contestação à presidência de Luís Filipe Vieira foi agora nomeado para presidente executivo da unidade de missão que irá projetar as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Portugal. Nomeação direta feita pelo Governo, sem qualquer tipo de concurso público nem qualquer tipo de discussão possível. Durante 5 anos, 6 meses e 24 dias irá usufruir das melhores regalias que o Estado tem para oferecer. Cerca de 4500€/mês e a possibilidade de levar consigo uma autêntica máquina composta por três adjuntos, três técnicos especialistas, um secretário pessoal e ainda um motorista. Ou seja, não bastam 3 anos para trabalhar toda a produção em causa ainda lhe são concedidos mais 2 anos, talvez para refletir sobre o que fez.

Vindo de uma pessoa que tanto criticou Vieira pela sua falta de ética e pelas suas jogadas pouco claras aquilo que percebemos como diz o celebre provérbio popular é que “pimenta no rabo dos outros é refresco para ele”. Não me espanta sinceramente que tal aconteça. Mesmo que tenha passado os últimos 10 anos a comentar tudo e mais um par de botas na televisão portuguesa (condição que não é aliás única), onde tem desempenhado um papel exaustivo para limpar todo o trabalho menos conseguido do governo PS, descortinando não variadas vezes, vitórias históricas e grandes feitos onde todos nós vimos erros e derrotas. Valeu-lhe provavelmente a merecida recompensa. Mas na realidade, seriam muito poucos os que enjeitariam tal oportunidade. Seja pelo ordenado ou pelo prestígio. E mesmo pouco coerente não é a ele que cabe a culpa. A culpa é de quem não aprendeu nada com o atual sucesso do vice-almirante Gouveia e Melo.

Mais uma vez se recorre aos aparelhos políticos e à máquina de propaganda para cargos que deveriam ser de desígnio nacional. Que nos fizesse estar todos dos mesmo lado, confortáveis com a nomeação e supra partidários. E que nos demonstrasse ser um processo justo, que abrisse até a hipótese de seleção de vários candidatos que pudessem apresentar as suas ideias para o cargo em apreço. Mas acima de tudo custa ver como se gasta o dinheiro de todos nós de forma tão fácil e leviana. Uma parafernália de cargos e mordomias que chocam o simples contribuinte que faz das tripas coração para pagar os seus impostos. Como disse José Cabrita Saraiva no jornal i “Aqui temos um bom retrato do país: para o caso de justiça mais importante dos últimos anos, possivelmente das últimas décadas, foi apenas disponibilizado um juiz, embora o processo implicasse a análise de milhares e milhares de páginas e depoimentos. Para as efémeras comemorações do 25 de Abril – de daqui a três anos –, contrata-se à tripa forra como se o país nadasse em dinheiro…”

Ficamos agora à espera para perceber se uma data tão importante como o 25 de Novembro terá as mesmas honras e contará com o mesmo espalhafato e condições análogas ou se mais uma vez a tentarão apagar da historia como é apanágio dos governos de esquerda.