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Especialistas e políticos criticam realização da Copa América no Brasil

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Foto EPA

Médicos, especialistas em saúde pública e partidos da oposição criticaram esta segunda-feira a decisão da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) de realizar a Copa América de futebol no Brasil, em plena pandemia de covid-19.

O médico e neurocientista Miguel Nicilelis usou a rede social Twitter para criticar o Governo brasileiro, frisando que "Colômbia e Argentina disseram não à CONMEBOL, mas, claro, o Brasil não poderia perder a oportunidade de sediar mais um evento futebolístico em meio a uma pandemia fora de controlo".

"Será que as seleções vão ser vacinadas à frente de milhões de brasileiros que esperam a sua vez na fila?", acrescentou o médico.

A CONMEBOL anunciou na manhã de ontem que a "Copa América de 2021 será jogada no Brasil".

"As datas de início e final [10 de julho] do torneio estão confirmadas. As sedes e a tabela serão informadas pela CONMEBOL nas próximas horas. O torneio de seleções mais antigo do mundo fará vibrar todo o continente", anunciou auela organização.

O epidemiologista Pedro Curi Halal também manifestou-se contra a realização do evento, destacando que a Copa América no Brasil é um "deboche e um desrespeito para com as 460 mil famílias em luto no país".

"A decisão foi tomada exatamente no momento em que a terceira onda se inicia. Como fã de futebol, lamento que o desporto esteja cada vez mais se afastando do povo", pontuou o especialista em publicação nas redes sociais.

O Partido dos Trabalhadores (PT), liderado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também criticou a decisão do país de ser o anfitrião do evento que a Colômbia não pode hospedar e do qual a Argentina se retirou como sede no último domingo.

"E a gente fica sabendo que [o presidente, Jair] Bolsonaro autorizou a realização da Copa América aqui no Brasil! É sério isso? Em meio à pandemia, chegada de terceira onda, risco de falta de leitos, de material para a vacina e com a vacinação lenta? Inacreditável!", 'disparou' a presidente do PT, Gleisi Hofmann.

Já o deputado federal Julio Delgado anunciou que entrará com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para proibir a disputa do evento no país.

"Estou entrando na Justiça contra a realização da Copa América no Brasil. Um absurdo! Trago mais informações ao longo do dia", escreveu Delgado em sua conta pessoal no Twitter.

Contrariando a reação negativa dos especialistas e da oposição, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, avaliou que a realização do evento no país representa "menos risco" do que na Argentina, que seria a sede do torneio.

"Vamos dizer o seguinte, que é menos (...) Não é que seja mais seguro, é menos risco. Não é mais. É menos. O risco continua", disse Mourão para jornalistas, em Brasília, na saída do Palácio do Planalto.

Por outro lado, o governador do Distrito Federal, que engloba Brasília, disse hoje que não "tem nada contra" a possibilidade de a cidade receber jogos da Copa América.

"Desde que respeitadas as medidas sanitárias necessárias, nada tenho contra", disse Ibaneis Rocha.

O estádio Mané Garrincha, em Brasília, que foi reformado para a Copa do Mundo de 2014, já é considerado um cenário possível para os jogos da Copa América.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar 461.931 vítimas mortais e mais de 16,5 milhões de casos confirmados de covid-19.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.543.125 mortos no mundo, resultantes de mais de 170,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.