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Repensar as prioridades

O mundo tal como o conhecemos mudou, nada mais será como antes, o retrocesso da economia provocado pelo Covid-19, trará mais desemprego, mais pobreza e o combate à fome irá ganhar uma maior relevância.

“Há um desejo inerente de voltar à normalidade e uma nostalgia para regressar à vida pré-pandemia”, no entanto, conforme referiu Edward Fishman “é importante aceitarmos que não haverá um regresso ao normal e que uma crise desta magnitude não desaparece simplesmente de um dia para o outro”.

De acordo com o ex-conselheiro para o secretário de estado da administração Obama, John Kerry, “este é o fim da ordem mundial iniciada em 1945, após a II Guerra Mundial e há várias lições a retirar da forma como essa – e a ordem anterior, de 1919 - foram criadas e conduzidas”.

Dito isto, será que estamos a planear como devíamos, os novos tempos, a preparar os novos desafios, a repensar e a ajustar as prioridades para o que aí vem?

Vai ser preciso reavaliar a agenda futura da humanidade, das nações e das regiões.

Vai ser preciso repensar prioridades, definir o que é essencial, garantir que a vida é a nossa primeira preocupação e reconciliar a nossa relação com a natureza.

Combater a pandemia, concluir a vacinação, apoiar as famílias e as empresas e recuperar a economia, devem ser as nossas principais prioridades.

É fundamental que todos os recursos e que todas as verbas sejam afetas a estas prioridades e que seja assegurada a transparência e o rigor na sua aplicação, já que as verbas são de todos e não apenas de alguns.

Não é por isso compreensível, a falta de visão estratégica e o erro estrutural sobre o qual assenta o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que mais parece uma lista de investimentos e gastos públicos do que um verdadeiro plano de recuperação e de apoio à economia.

Um plano que não prevê verbas para os que mais precisam, que não disponibiliza verbas para as empresas e para os sectores mais afetados pela pandemia, como o turismo, o comércio, a restauração e os transportes.

Um plano excessivamente centrado no Estado e no investimento público, decidido entre Ministros e assessores, sem ouvir as Regiões Autónomas, as autarquias, as CCDR´S e a sociedade civil.

Uma “bazuca” que rapidamente passou a “vitamina” e que não prevê verbas para o mar, para a agricultura, para o sector agroalimentar, para a ciência, para o ensino superior, para a cultura e para o desporto.

A bem de todos, esperamos que estas falhas do PRR sejam brevemente corrigidas, a mudança provocada pelo Covid - 19 é uma rara oportunidade que todos nós temos, de repensar as prioridades e as opções governativas, de colocar as pessoas no centro da ação governativa, num momento de transição para uma nova ordem mundial.

Esta é uma oportunidade que não pode ser perdida, de ajudar quem mais precisa, de acrescentar valor, de investir no que é certo.