Madeira

Fugir com o braço à seringa

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Boa noite!

Atendendo a que o mais humilde dos cidadãos espera que o processo de vacinação contra a covid-19 seja gerido honestamente, com critérios rigorosos e com base científica, não é à primeira perceptível que, uma vez definidas as prioridades, emitidas as directrizes e notificados os vacináveis, surja uma repentina, eleitoralista e demagógica vaga de fundo que não só desrespeita orientações superiores, como abre precedentes de gravidade extrema.

Que alguns eleitos, chegada a sua vez, fujam com o braço à seringa, não é inédito. É comum vê-los, noutras circunstâncias, a sacudir a água do capote, a negar responsabilidades e a delegar culpas. Logo, quem decidiu inclui-los na lista que se aguente e arranje depressa alternativas para que nenhum dose se perca.

Os que pedem adiamento da oportunidade da vacinação têm todo o direito em fazer uma birra, deveras previsível. Aliás, percebe-se bem a razão que leva alguns presidentes de Câmara a quererem agora ser tratados como cidadãos – e a malta a julgar que isso estava subjacente à sua existência como eleitos. Não lhes dá jeito em ano autárquico ser alvo predilecto das dilacerantes vozes da ira. Tão só isso.

Ficamos comovidos que queiram ser tratados como os demais, mas alertamos para o reverso da medalha, para a elevada probabilidade de terem que ouvir aqueles que, porventura, armados em decisores da coisa pública, tecem sem contemplações considerações abusivas sobre o meritório papel dos autarcas. Com a crescente especialização em tudo o que mexe, e o seu contrário, não é de espantar que surjam os cobradores de promessas, os comentadores sem rosto e os perfis de circunstância a exigir-lhes o fim das mordomias, dos gabinetes, dos motoristas, das secretárias pessoais, das despesas de representação e das ajudas de custo, coisas que o comum dos cidadãos nem sabe o que é.

Porque não está em causa a legitimidade em prescindir da oportunidade concedida, resta a quem agora não se sente confortável para ouvir umas bocas a pôr-se na fila. Diz o povo que quem vai ao mar, perde o seu lugar. Ou seja, quem recusa a sua vez, definida presume-se por quem sabe, deve ficar para último. Neste caso pode até ser uma vantagem colectiva, pois as autoridades de saúde tudo farão para que a espera não seja demorada.

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