Crónicas

Os pequenos e os alucinados

Somos pequeninos no tamanho, mas a nossa alma é enorme. Uma alma com o tamanho de uma história de 600 anos

Somos pequeninos no tamanho, mas a nossa alma é enorme. Uma alma com o tamanho de uma história de 600 anos

1. Disco: Lembram-se de Sammy Hagar? Ainda anda por aí e acabou de lançar “Lockdown 2020”, um disco gravado no primeiro confinamento. No alinhamento da banda, conta com Jason Bonham, filho do lendário baterista dos Zeppelin. Um disco para saudosistas do som hard dos anos 70, onde se pode ouvir uma versão de “Won’t Get Fooled Again”, dos The Who, e uma revisitação a “Whole Lotta Rosie”, dos AC/DC.

2. Livro: partindo de uma premissa fantástica, a morte, Simon Critchley leva-nos numa viagem pela história da filosofia. Filosofia que nos é entregue em 190 pequenos pedaços, correspondendo cada um a um filósofo. Critchley não pretende ensinar filosofia a ninguém. Nem o livro tem nada a ver com o modo como os filósofos vivem. É sobre como os filósofos morrem. Um livro que nos leva a contemplar e a meditar sobre a morte e o papel que esta desempenha nas nossas vidas.

3. Sentimo-nos pequenos. Minúsculos mesmo. Se somos assim é porque não olhamos para a imensidão que representamos, para o potencial que temos, para a possibilidade de fazer do pequeno, grande.

É mais que tempo de fazermos um “upgrade” do que somos. Sem medo. De crescermos, de ultrapassarmos esta menoridade que nos impede o passo em frente.

A pandemia não pode ser razão de demissão, tem que ser de rebeldia, porque não há outra hipótese que não seja o seguirmos o nosso caminho com coragem e determinação. A rendição a este tempo que nos puxa os pés para o fundo, não é sequer hipótese.

Somos pequeninos no tamanho, mas a nossa alma é enorme. Uma alma com o tamanho de uma história de 600 anos, uma história que nos levou aos quatro cantos do mundo, onde ajudámos a construir a pátria de outros. É nisto, que escondemos em nós, esta imensa vontade adormecida de nos apoiarmos mutuamente para construir uma Madeira de todos e para todos.

Olhemos para o passado, para com ele aprender o que não queremos. Orgulhemo-nos das nossas glórias, mas não nos agarremos a elas com a esperança vã de que nos resolvam o futuro e atenuem esta angústia.

Chega de declínio. Os esforços e sacrifícios que fazemos constantemente têm que nos dar mais do que isto. É pouco, muito pouco, o que recebemos de volta.

A Madeira é nossa, de todos nós. Mas não é essa a sensação que temos, pois não? Não sentimos todos a nossa inutilidade perante uns Donos Disto Tudo, que de tudo beneficiam, que tudo levam, que tudo fazem a seu belo prazer?

São milhares as famílias madeirenses que passam momentos muito difíceis. Entrámos num terrível ciclo de pobreza, um ciclo de falências, desemprego, angústia, miséria, fome. Um ciclo que urge quebrar o mais depressa possível.

Este estado de coisas vai aprofundar desigualdades. E, depois, temos a burocracia dos regulamentos. Temos madeirenses à beira da tragédia e há quem continue preocupado com alíneas, artigos, vírgulas e pontos.

Se esta porcaria de pandemia serve para algo, é para que todos possam ver como somos parcos de soluções, de como o Sr. Governo não consegue dar conta do recado, que o seu poder e recursos são poucos e esgotados, apesar da carga fiscal que suportámos ao longo dos anos. Que o modelo económico em que vivemos não presta.

Olhamos para trás, para estes longos dez meses e, em vez de estarmos a ver uma luz ao fundo do túnel, continuamos a assistir a um persistente atirar de esterco para a ventoinha. Toda a gente sabe tudo e ninguém ouve ninguém.

Pensem, mas pensem bem, com os olhos postos no amanhã. O passado já lá vai, este presente não o queremos e temos de pensar o futuro.

4. As presidenciais foram-se e a esquerda continua perdida, não conseguindo perceber como lidar com o monstrinho que ajudou a criar, alimentando-o. Continua com a mesma conversa assoberbada.

Fiquem descansados que será a direita liberal, humanista e moderada que travará o “bom combate”. Com ideias e recusando-se a chafurdar na lama com os porcos.

“Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.” Romanos 12:21.

Do outro lado, alguma direita, a que quer o poder pelo poder, demonstra o quanto está longe da democracia liberal. A direita do vale tudo, mesmo o engolir um elefante que, de tromba de fora, consegue dar cabo da louça toda.

A direita dita pragmática que pensa que a sua extrema é melhor que a extrema dos outros. A direita que não percebe que extremismos são só isso… extremismos.

Será pela direita das ideias, do humanismo, da tolerância que os extremismos serão derrotados.

5. Cada vez me convenço mais de que vivo num país governado por alucinados. Temos presidentes de câmara que tomam vacinas, sem fazerem parte de qualquer grupo prioritário; vão-se vacinar políticos, sem que o critério da necessidade esteja presente; Mário Centeno diz que a economia está a reagir, muito bem, à pandemia; Marta Temido, a ministra da Saúde, não se apercebe que o SNS está a se desfazer, debaixo dos seus dedos; o senhor da Educação proíbe o ensino privado, que se preparou para isso, de continuar as aulas em regime de ensino à distância; António Costa dá uma entrevista onde reconhece que as coisas correm mal, mas a culpa deve ser do Espírito Santo.

É isto, não é?

6. A 3 de Setembro de 1939, a França e o Reino Unido declararam guerra à Alemanha, após esta ter invadido a Polónia. No entanto, na Europa Ocidental, a guerra foi pouco mais que uma ou outra escaramuça, na fronteira entre franceses e germânicos. Tudo muda, oito meses depois, com a invasão da Bélgica, Holanda e França, a 10 de maio de 1940. Este período é chamado de “drôle de guerre”, em português qualquer coisa como “espécie de guerra”.

Assim é este momento que vivemos na Madeira: uma “espécie de confinamento”. Uma coisa que nos obriga a recolher obrigatório, a partir do final da tarde. A economia trabalha um pouco acima dos 50%, mas não vê apoios a chegar que consigam compensar as quebras de facturação. Ordenados, impostos, rendas, despesas de funcionamento, taxas e taxinhas, etc., tudo isto continua a precisar de ser pago. “Ora, tomem lá 438,81€ por trabalhador, para compensar o estarem a funcionar a meio gás vai para mais de dois meses. E sejam poupadinhos que não há mais e Lisboa não se chega à frente”.

É ouvi-los a cramar que os de “lá” não ajudam os de “cá”. Quarenta e tal anos de Autonomia e continuamos com uma mão à frente e outra atrás, sempre que passamos por uma dificuldade. Em quarenta e tal anos, não criámos riqueza que nos sustente. Não se deram passos certos e decisivos rumo ao desenvolvimento e ao criar condições para que essas proporcionassem uma vida melhor a todos os madeirenses.

7. Na passada semana, no JM, um amanuense do PSD escreveu uma crónica que começa com um “wishfull thinking”: uma possível coligação entre o PSD, o CDS, o MPT, o PPM e, imagine-se, o Iniciativa Liberal. Desengane-se o autor do texto e os que com ele concordam, mas enquanto eu for membro da IL, isso não vai passar de um desejo. Se os meus companheiros de partido com isso concordarem, sei bem onde fica a porta por onde entrei e que funciona para os dois lados.

Com esses partidos, já o disse e reafirmo, nem para ir ver se está a chover, quanto mais para fazer uma coligação.

Mas numa coisa sou concordante com o escriba: chega de socialismo. Do socialismo da Câmara Municipal do Funchal e do socialismo do Governo Regional.

Continuamos a não querer queimar etapas e a correr a maratona sozinhos.

Temos o tempo do nosso lado.

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