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Catarina Martins diz que crise política é "artificial, desnecessária e truque de Costa"

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A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) considerou hoje a atual crise política, com a dissolução do parlamento e eleições legislativas antecipadas, "artificial, desnecessária e um truque de António Costa" para obter uma maioria absoluta.

"A crise política é artificial, é um truque com que António Costa quebrou pontes com a esquerda na obsessão da maioria absoluta", afirmou Catarina Martins durante um comício no Coliseu do Porto.

Perante uma sala cheia, a bloquista afirmou ter sido a "intransigência" do PS sobre as propostas das esquerdas na negociação orçamental que levou o país para eleições antecipadas.

Para Catarina Martins, não tinha e não devia ter sido assim, uma vez que, considerou, existiam outros caminhos.

Nunca em nenhum país europeu foram convocadas eleições por causa de um chumbo de uma proposta de Orçamento de Estado, acrescentou.

Mas, a ambição da maioria absoluta levou o PS a recusar um entendimento razoável sobre questões de fundo, vincou.

"E o resultado é esta crise artificial e desnecessária, que o Presidente [da República] anunciou ainda durante a negociação do orçamento e que o primeiro-ministro prontamente aceitou na vertigem da tão desejada maioria absoluta", disse.

Perante este cenário, a coordenadora do BE questiona se se justifica uma crise só porque o PS não aceita aprovar medidas nas leis do trabalho que o próprio propôs no passado recente.

"Justifica-se mesmo uma crise só porque o PS não aceita carreiras com exclusividade e condições adequadas para os profissionais de saúde, como propunha a lei de António Arnaut e João Semedo, questionou.

A bloquista questiona ainda o porquê do PS não aproveitar a maioria que podia fazer com a esquerda no parlamento para resolver problemas estruturais do país e que a pandemia de covid-19 expôs ainda mais.

No seu entender, a explicação está nos interesses económicos que condicionam e vivem dentro do PS.

O Presidente da República convocou eleições legislativas antecipadas para 30 janeiro de 2022 na sequência do "chumbo" do Orçamento do Estado do próximo ano, no parlamento, em 27 de outubro.

O Orçamento teve apenas o voto favorável do PS e os votos contra das bancadas do PCP, BE e PEV, além dos deputados da direita, PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega. O PAN e as duas deputadas não inscritas abstiveram-se.

A perda do apoio parlamentar no Orçamento do Estado de 2022 foi um dos motivos invocados por Marcelo Rebelo de Sousa para justificar a dissolução do parlamento e a antecipação das eleições.

A Constituição determina que as legislativas antecipadas têm de se realizar nos 60 dias seguintes à dissolução do parlamento -- que só poderá ser decretada, portanto, a partir de 01 de dezembro.