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Redes sociais e a saúde mental dos adolescentes

Jonathan Haidt, psicólogo norte-americano, investiga o impacto do uso das redes sociais na saúde mental em adolescentes, em especial nos EUA, Reino Unido e Canadá.

Tem constatado, desde 2010, um aumento de episódios depressivos maiores de 7% e de 20% em rapazes e em raparigas, respetivamente, e uma subida de 189% na faixa dos 10-14 anos e de 62% na faixa dos 15-19 anos em admissões hospitalares por lesões autoinfligidas não fatais, mas apenas em raparigas. As hospitalizações por ideação e tentativas de suicídio duplicaram entre 2008 e 2015 em ambos os sexos entre os 11 e 18 anos. Nos EUA, onde o suicídio é a 3.ª causa de morte entre os adolescentes, este aumentou 151% em meninas pré-adolescentes e em 70% nas adolescentes mais velhas.

As respostas para este quadro estatístico neste timing temporal e para as diferenças em ambos os sexos têm apontado, de forma preliminar, para uma correlação entre a qualidade da saúde mental e o uso de smartphones e das redes sociais.

A geração Z, nascida depois de 1996, foi a primeira a aceder às redes sociais na pré-adolescência, quando os smartphones se começaram a massificar, fazem parte do seu mundo desde sempre, e com elas se relacionam de forma mais próxima e dependente do que as gerações antecessoras.

A investigação sustenta que os rapazes usam predominantemente os smartphones para acesso a jogos ou conteúdos para adultos.

Já as raparigas tendem a envolver-se mais em agressividade relacional e bullying através de rumores, danos reputacionais e de imagens adulteradas. Tendem a excluir-se socialmente, fenómeno que as redes sociais acentuam e ao qual as jovens são mais sensíveis. E, na perspetiva da comparação social, já não têm como referência distantes modelos de revista, mas fotos editadas das suas colegas nas redes sociais.

Outras explicações para o quadro antes traçado envolvem a dependência de “gostos” num estádio de desenvolvimento da identidade em que os adolescentes dependem dos pares para validarem quem são e o facto de as plataformas digitais aproveitarem-se bem da necessidade e da consequência emocional e neurobiológica de um gosto.

Também a falta de cuidados de privacidade nas redes sociais potencia que outras pessoas tenham acesso a determinadas informações e as possam usar de forma negativa em relação aos jovens, que também relatam a pressão para estarem “on”, responderem a mensagens e publicarem posts interessantes, atrativos, engraçados, de forma a manterem a sua presença e reputação nas redes.

Todo este quadro contribui para menos momentos de interação frente a frente. Empatia, compaixão e resiliência implicam prática nas interações sociais presenciais que contribuem para sentimentos positivos de bem-estar e para o desenvolvimento de competências. Pelo que importa estimular aptidões nos nossos jovens de forma a gerirem melhor o poder aditivo e persuasivo das redes sociais, acompanhá-los, informá-los acerca dos seus potenciais malefícios e benefícios, estarmos presentes e atentos. E encorajar e estimular a consciência de que é importante desconectar-se e envolver-se em atividades extra ecrã.