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Guterres propõe "roteiro para a inclusão" com parte de 2 biliões de gastos militares

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu esta terça-feira um novo "roteiro para a inclusão", para investimento em ações de desenvolvimento humano, com parte dos quase dois biliões de dólares de gastos militares anuais a nível global.

"Imaginem o progresso que poderíamos fazer - a paz que poderíamos construir, os conflitos que poderíamos prevenir - se dedicássemos mesmo uma fração disso [do orçamento militar] ao desenvolvimento humano, igualdade e inclusão", disse António Guterres, numa reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque

Nesta área, o antigo primeiro-ministro português apelou a mais investimentos em cobertura universal de saúde, proteção social e redes de segurança social, o reforço das oportunidades de educação e formação profissional e também vacinas contra a covid-19 para todos.

A nível da prevenção, Guterres declarou ser imprescindível contrariar exclusão e desigualdades de todo o tipo, e exigiu "uma monitorização mais rigorosa das crescentes desigualdades".

As declarações foram feitas hoje numa reunião especial da presidência rotativa do Conselho de Segurança pelo México, dedicada ao tema da manutenção da paz internacional com foco na "exclusão, desigualdade e conflitos" e presidida pelo chefe de Estado mexicano, Andrés Manuel Lopez Obrador.

O secretário-geral da ONU defendeu ainda que os processos de paz devem ser inclusivos e abrangentes de todos os grupos populacionais, com especial atenção a mulheres e jovens de todas as etnias.

Guterres sublinhou ainda que o "papel das mulheres na construção da paz" tem de ser reconhecido e priorizado, com combate à exclusão, opressão e violência.

O chefe da ONU lembrou que as mulheres são vítimas de violação, escravatura sexual, são usadas como "instrumentos da guerra", excluídas de posições de liderança e enfrentam a tradição da misoginia.

Na ONU, "as mulheres estão no centro dos esforços de prevenção de conflitos e construção da paz", declarou António Guterres, acrescentando que o Fundo para Construção da Paz (Peacebuilding Fund) dedica 40% do orçamento para igualdade de género e defesa dos direitos das mulheres.

Por último, o secretário-geral indicou a necessidade de "instituições nacionais que incluem e representam todas as pessoas, ancoradas nos direitos humanos e no Estado de Direito", com o exemplo de sistemas de justiça que não defendem só os ricos ou os poderosos.

A nível de instituições "fundadas em princípios de integridade, transparência e responsabilidade", sublinhou a resiliência à corrupção e abusos de poder e pediu políticas e leis que protegem grupos vulneráveis.

O secretário-geral terminou a sua intervenção dizendo que "em todas as sociedades, a diversidade de cultura, religião e etnia deve ser vista como um benefício poderoso, não como uma ameaça" e sublinhou que "isso é essencial em todos os países, mas especialmente naqueles em conflito".

 "A paz nunca foi mais urgente", já que o mundo assiste ao assalto do Estado de Direito, numerosos golpes de Estado e ao "maior número de conflitos violentos desde 1945", que se tornaram "mais longos e mais complexos", disse Guterres.