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Familiares de vítimas brasileiras criticam Governo e pedem justiça

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Foto AFP

Familiares de vítimas da covid-19 no Brasil criticaram hoje a gestão da pandemia feita pelo Governo de Jair Bolsonaro e pediram justiça durante a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga a atuação do executivo.

A sessão de hoje da CPI da Pandemia, que decorre no Senado brasileiro, foi marcada pelos relatos emotivos dos familiares de vítimas e por homenagens aos que perderam a vida durante a crise sanitária no país sul-americano.

Várias testemunhas criticaram diretamente o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, devido ao seu comportamento negacionista durante a pandemia.

Katia Castilho dos Santos, que perdeu os pais devido à covid-19, recordou as duas ocasiões, em março e maio passados, em que Bolsonaro imitou pessoas com falta de ar.

"Quando a gente vê um Presidente da República fazer isso, para nós é muito doloroso. Se ele tivesse ideia do mal que faz para a nação, além de todo o mal que já fez, ele não faria isso", lamentou a testemunha.

Já Antônio Costa, fundador da organização não-governamental (ONG) Rio de Paz, destacou a "impressionante falta de empatia" de Bolsonaro, observando que o mandatário "nunca derramou uma lágrima" pelas vítimas.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz, solidarizou-se com as vítimas e reafirmou que o objetivo da Comissão "não é vingança, e sim justiça", "para que quem esteja de plantão no poder saiba que o Brasil teve uma pandemia que levou milhares de vidas e as pessoas que foram omissas foram penalizadas por isso".

Ao longo da sessão, foram vários os senadores que reforçaram o compromisso da CPI com a procura por justiça.

Um dos depoimentos que mais emoção causou na sala foi o de Giovanna Mendes da Silva, uma amazonense de 19 anos que perdeu os pais para a covid-19 e tornou-se assim responsável pelo sustento da irmã de 10 anos.

"Eu vi que eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. A partir daí eu pensei que eu não poderia mais ficar sem ela, então decidi que precisava mesmo ficar com a guarda dela. Eu assumi esse desafio por amor", relatou a jovem.

Por sua vez, Márcio Antônio Silva, que perdeu um filho para a doença, entregou aos membros da CPI uma caixa com 600 lenços, para representar os mais de 600 mil mortos que a doença causou no país.

Já Maria dos Santos Brandão, que perdeu o marido na pandemia, pediu que o Senado proponha a formação de uma Comissão "nos moldes da Comissão da Verdade": "Coloquem um ponto final nesse genocídio. As nossas esperanças estão nesta Casa. Honrem a memória dos mortos. Entreguem um relatório final fiel às barbaridades que foram ouvidas aqui".

Na contramão da maioria dos senadores, Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, divulgou um vídeo defendendo as ações do Govern.

O senador acusou a CPI de ter "escolhido a dedo pessoas com histórico de militância contra Bolsonaro" para estarem presentes naquela sessão.

"O que estamos testemunhando é macabro, triste e lamentável. É um desrespeito com as quase 600 mil vítimas desse vírus aqui no Brasil. Bolsonaro fez e continuará fazendo o que está ao seu alcance. Já são mais de 621 mil milhões de reais (cerca de 97 mil milhões de euros) investidos no combate à pandemia. (...)Foi o Presidente Bolsonaro que impediu o caos", defendeu.

A comissão foi instalada no Senado brasileiro em abril passado e, desde então, tem apurado indícios de inúmeras irregularidades, que vão desde a defesa de fármacos ineficazes contra a doença por parte do Governo, até possíveis casos de corrupção na negociação de vacinas.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, totalizando 603.282 óbitos e mais de 21,6 milhões de infeções pelo novo coronavírus.

A covid-19 provocou pelo menos 4.895.733 mortes em todo o mundo, entre mais de 240,60 milhões de infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.