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EUA criticam "métodos brutais" usados pela Rússia nas manifestações

Nova administração norte-americana lembrou que manifestantes apenas exigiam a libertação do líder da oposição e que há indícios de novos ataques às liberdades fundamentais da sociedade civil

Foto EPA/MAXIM SHIPENKOV
Foto EPA/MAXIM SHIPENKOV

Os Estados Unidos criticaram ontem os "métodos brutais" usados pela polícia russa para reprimir os manifestantes que exigiam a libertação do líder da oposição e consideraram que há indícios de novos ataques às liberdades fundamentais da sociedade civil.

"Os Estados Unidos condenam fortemente o uso de métodos brutais contra manifestantes e jornalistas este fim de semana em cidades de toda a Rússia", escreveu o novo porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, numa declaração citada pela agência francesa de notícias AFP.

"Instamos as autoridades russas a libertar todos aqueles que foram presos por exercerem os seus direitos fundamentais e a libertar imediata e incondicionalmente Alexei Navalny", acrescentou o porta-voz da diplomacia norte-americana, num dos primeiros comentários feitos sob a nova Presidência de Joe Biden.

No entender da administração norte-americana, referiu, "as contínuas tentativas de suprimir o direito dos russos de se reunirem pacificamente e de suprimir a liberdade de expressão, a detenção do político da oposição Alexei Navalny e a subsequente repressão das manifestações são indícios preocupantes de novas restrições à sociedade civil e às liberdades fundamentais".

A declaração surge no mesmo dia em que a polícia russa deteve mais de 3.400 pessoas nos protestos de sábado em mais de 80 cidades exigindo a libertação de Alexei Navalny, segundo o OVD-Info, um grupo não-governamental que contabiliza detenções por motivos políticos.

Em Moscovo, a agência de notícias AFP estimou em 15 mil o número de manifestantes que se juntaram na Praça Pushkin e noticiou que houve confrontos com a polícia, dos quais resultaram várias detenções, entre as quais as da mulher de Alexei Navalny.

Também neste dia, o chefe da diplomacia europeia anunciou que os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia vão reunir-se na segunda-feira para "ponderar as medidas" para pressionar a Rússia a libertar o líder da oposição.

"Discutiremos os próximos passos com os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia na segunda-feira; a União Europeia apela à libertação do senhor Navalny e esta reunião deve começar a ponderar as medidas a tomar para apoiar esta exigência", escreveu o alto representante para a Política Externa europeia, Josep Borrell, numa mensagem no Twitter, na qual criticou as "detenções em massa" na Rússia.

As manifestações foram convocadas para dezenas de cidades russas depois da detenção de Alexei Navalny quando regressou à Rússia, na semana passada, algumas delas com os protestantes a enfrentarem temperaturas de -50 graus.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia exigiu explicações da embaixada norte-americana, que terá publicado o itinerário das manifestações.

"Do que se trata? É para influenciar ou dar instruções aos manifestantes?", perguntou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, no Facebook, acrescentando que "os colegas americanos terão de vir explicar-se à Praça Smolenskaya", a sede da diplomacia russa.

Os protestos estenderam-se a todo o território da Rússia, desde a ilha de Yuzhno-Sakhalinsk, a norte do Japão, até à cidade siberiana de Yakutsk, onde as temperaturas rondavam hoje os -50 graus, passando pelas mais populosas cidades russas europeias.

Segundo a AFP, a dispersão dos protestos por todo o território mostra o apoio ao candidato opositor e à sua campanha contra a corrupção, que conseguiu criar uma extensa rede apesar da repressão do Governo e de ser repetidamente ignorado pelos órgãos de comunicação estatal.

As autoridades russas já haviam alertado nos últimos dias, através da polícia e do Ministério Público, que tomariam medidas contra os participantes nas manifestações não autorizadas.

Na quinta-feira, as autoridades russas iniciaram uma campanha de assédio contra ativistas e principais colaboradores de Navalny para tentar impedir os protestos de hoje com a prisão de vários deles, como a sua porta-voz, Kira Yarmish, que irá cumprir nove dias de prisão.

Cartazes com frases "Liberdade" e gritos como "Putin, ladrão!" ou "Nós somos o poder!" foram ouvidas hoje em todo o país nas manifestações.

Alexei Navalny foi detido ao voltar à Rússia no dia 17 de janeiro - depois de cinco meses de convalescença na Alemanha devido a um envenenamento -, acusado de violar as medidas de controlo judicial, por sair do país quando estava em liberdade condicional relacionada com outro processo na justiça russa.

Navalny vai permanecer em prisão preventiva até pelo menos 15 de Fevereiro.

Vários instituições e países já apelaram à libertação imediata do opositor russo.

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