Coronavírus Madeira

Covid-19 nos lares “é quase uma inevitabilidade”

Rui Moisés não tem casos identificados no Lar de Santana, fruto do trabalho e da sorte. Mais de uma centena foi vacinada ontem

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Foto Arquivo

“Isto é quase uma inevitabilidade, apesar de todos os cuidados que se possa ter”, afirma Rui Moisés, presidente da direcção da Associação Santana Cidade Solidária, sobre os casos que têm surgido em vários lares da Região nas últimas semanas, recusando que sejam resultado de falhas. A instituição gere o Lar de Santana, uma das instituições na Madeira sem casos até hoje identificados e que ontem vacinou 114 pessoas, entre elas 54 dos 58 utentes.

A ausência de casos identificados neste lar é fruto do trabalho e da sorte, no entender do responsável. No momento seguinte pode mudar e somar logo meia-dúzia, esclarece. “Eu quero ter sorte, nós queremos ter sorte em benefício dos nossos utentes. Mas temos muito trabalho, garantidamente. E eu acredito que todas as unidades daqui e do continente têm muito trabalho, mas isto é muito difícil”.

Rui Moisés fala de uma “angústia” para proteger as pessoas. “Mas é quase inevitável, porque isto é um vírus tão feroz, tão agressivo e tão invisível, por mais que se faça… Nós temos visto figuras públicas de todos os quadrantes, devem ter os máximos cuidados. E acontece.”

O responsável acredita que as instituições, mesmo as que estão com casos positivos, estão a cumprir as medidas e conta que a cada dia o cerco ao vírus é mais rigoroso, porque há mais casos e a nova estirpe é também mais contagiosa. Recusa falar em falhas nos lares. “Então o Mundo todo está a falhar?”

O ex-presidente da Câmara de Santana lembra que desde Março os cuidados são permanentes e há um plano de contingência muito rigoroso. A principal preocupação é não levar para dentro da instituição qualquer foco que possa promover o contágio, um desafio para quem não se pode isolar do exterior e tem gente a entrar e sair todos os dias para cuidar dos utentes. “Há reuniões regulares com todos os colaboradores para alertar para a situação, para que possam ter mais atenção, até na sua vida individual”, destacou. “Nós não podemos olhar para um colaborador e pensar ‘Tu és uma ameaça’. Não! Ele é um elemento fundamental na nossa equipa de trabalho.”

Os cuidados passam por exemplo por deixar em quarentena os bens, trabalhar por circuitos, não receber visitas, isolar os doentes que vão ao Serviço de Urgência e voltam e dedicar-lhe um funcionário em exclusivo durante esse período. Os fornecedores não fazem entregas de forma directa, os produtos são deixados na garagem da instituição em espaço sempre higienizado. As fardas dos que ali trabalham são lavadas na instituição, separadamente, e não há contacto entre a farda e a roupa do colaborador. Há desinfecção acrescida e muito material de protecção individual.

Para combater os custos acrescidos há um programa específico, o Social Ajuda +. Rui Moisés reconhece o trabalho “extraordinário” da Segurança Social no apoio às instituições, o que não invalida que reivindique mais recursos para estas unidades de acolhimento. São precisas mais mãos, e não apenas em contexto de covid-19. “O Governo Regional através do Instituto de Emprego criou PARESS - Programa de Apoio ao Reforço de Equipas Sociais e de Saúde, para ajudar nesta altura de pandemia. “Esses recursos que fazem falta agora, também fazem falta nas outras alturas.”

Rui Moisés não acredita que os casos positivos afectem a imagem dos lares. Diz que a comunidade deveria olhar para os lares, sempre. “As pessoas só valorizam quando têm pessoas nessas unidades, quando precisam. Mas estas unidades fazem um trabalho diariamente, antes da covid e sem covid. Nós estamos em permanência a ajudar as pessoas, a ajudar os familiares”, lembrou. E pede maior valorização dos lares e dos profissionais que ali trabalham.

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