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Madeirense radicado na Venezuela não prevê grandes mudanças após legislativas de domingo

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Os portugueses radicados na Venezuela não preveem grandes mudanças na crise política, económica e social que a feta o país, após as eleições legislativas de domingo, mas afastando, de imediato, a possibilidade de regressarem a Portugal.

"São tempos de turbulência, de instabilidade. Não sabemos bem o que está passando e o que vai passar, vamos andando como diz o provérbio, segundo o toque será o baile", disse David Neves, natural da Madeira, à agência Lusa.

No entanto, segundo afirmou, poderá haver "mais um passo na radicalização" da revolução bolivariana com as eleições legislativas a reafirmarem o regime, afirmando estar a ponderar se vai votar ou não.

"O Governo vai sozinho, porque todos os partidos que vão participar (foram manipulados. Ele mudou a junta diretiva dos partidos que em princípio representam a oposição e os candidatos da oposição, como tal, não participam e se reafirmará, mas nenhum país democrático terá em conta o novo parlamento", defendeu.

Segundo David Neves, a comunidade lusa está "instalada na Venezuela desde há muitos anos" e por isso "é difícil decidir ir embora" de um momento para outro.

"Muitas pessoas já são idosas, estão enraizadas, têm filhos cruzados com outras pessoas daqui, de países da América Latina. Têm também bens adquiridos com muito suor e muito sacrifício, portanto, não é fácil tomar essa decisão, dizer que me vou embora", frisou.

Natural da Madeira, este comerciante tem dois filhos que, devido à crise, deixaram a Venezuela: num "plano de estudo e de trabalho", à procura "de oportunidades, tal como este também emigrou, no seu tempo".

"Mas, tenho a certeza de que se a Venezuela voltar a ser como era antes, as pessoas vão regressar porque é um país é maravilhoso, tanto no clima como na amabilidade e trato das pessoas. É um país único que tem muitas riquezas naturais, uma população jovem que se adaptar rapidamente a qualquer mudança, por isso tem muito porvir, sempre e quando haja uma mudança de linha de Governo e de regime", disse.

Vários portugueses recusaram-se a ser gravados para falar sobre as suas intenções de voto, alguns deles por considerarem que "é uma decisão muito íntima".

Outros explicaram que "o mais importante é trabalhar, preparar-se para o futuro", não sendo prudente assumir opiniões publicamente.

"Quem for votar no domingo, será identificado como simpatizante do chavismo e quem participar na consulta popular [contra o regime, que a oposição realizará entre 07 e 12 de dezembro], será automaticamente visto como opositor", explicou um deles pedindo para não ser identificado.

No entanto, a deputada lusodescendente Fátima Soares, do partido opositor Primeiro Justiça, está determinada a não votar e questiona a legalidade das eleições.

"Não vou votar no domingo, não me vou prestar para essa fraude eleitoral, (...) todos os candidatos que participam foram pagos pelo regime", disse à agência Lusa.

Representante dos circuitos de Cátia, El Junquito e La Pastora, a lusodescendente questiona o que vão escolher os eleitores se "[Nicolás] Maduro vestido de amarelo, de branco, de azul, ou se vestido de vermelho".

"Não há eleições, é um 'parapeito'. Não vou participar porque não me garantem condições eleitorais, entre elas porque a nomeação [dos reitores] do Conselho Nacional Eleitoral foi feita pelo Supremo Tribunal de Justiça [STJ] e não pela Assembleia Nacional", explicou.

A lusodescendente denunciou que "há mais de cinco milhões de venezuelanos" no estrangeiro que continuam a aparecer como eleitores na Venezuela "e não há garantias para saber se, de alguma maneira fraudulenta, terminarão participando", defendendo ser uma prioridade fazer uma "revisão do registo eleitoral".

"O STJ confiscou os símbolos e insígnias de vários partidos políticos e seus integrantes para formar uma oposição à medida de Maduro, por isso temos uma falsa oposição que se presta para esta fraude", disse.

Fátima Soares denunciou ainda que "nos setores populares venezuelanos, muitos grupos afetos ao regime, que têm o controlo social através da alimentação, fazem listagens, para obrigar as pessoas a participar".

A mesma coisa se "passa como os funcionários públicos, com todos os que trabalham em instituições e ministérios", acrescentou.

"De alguma maneira estão a obrigá-los a participar nessas eleições fraudulentas", afirmou.

Os venezuelanos vão no domingo às urnas para eleger os novos deputados para a Assembleia Nacional, dominada pela oposição desde 2015, mas na qual o chavismo promete agora uma vitória arrasadora.

As eleições decorrem no auge de uma crise económica, política e social que obrigou 4,5 milhões de venezuelanos a abandonar o país nos últimos cinco anos.

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