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TAP - Take another plane (II)

Vai uma aposta que, mantendo-se estas condições de mercado, mesmo que coloquem os “prometidos” novos aviões na linha – o que eu duvido - não reduzem um cêntimo que seja nos preços?

Quando li o artigo de José Manuel Ramos, publicado a 20 de junho passado, neste matutino, já tinha escrevinhado este, dando-lhe, inclusive, um título muito semelhante.

Sei que ele não me levará a mal pela continuidade desta saga. E isto porque nunca o acrónimo TAP para “Take another plane” (apanhe um outro avião) foi tão apropriado.

Pena é que havendo um oligopólio perfeito na linha aérea entre a Madeira e Lisboa, não seja nada fácil apanhar um outro avião para viajar entre estes dois destinos. Aliás, é cada vez mais difícil.

A Easyjet é, vê-se bem porquê, o parceiro ideal, que vai alinhando com a TAP no que importa, nomeadamente na criação de todos os entraves e mais alguns para evitar a entrada de uma terceira companhia nesta rota.

E é por isso - e tão somente por isso - que a TAP deixa cair, dia após dia, a qualidade do seu serviço nesta linha - uma das mais rentáveis que tem - desprezando e prejudicando os seus clientes, sejam estes madeirenses ou turistas.

Houvesse concorrência sadia, funcionassem as leis de mercado e a TAP não ousaria fazer o que nos faz. Porque as suas aeronaves passariam a voar às moscas!

Vem isto a propósito do estardalhaço que foi feito à volta da reunião da administração da TAP, aqui na Madeira, no início desta semana. Ocasião em que o CEO da TAP voltou a afirmar que “o valor das tarifas é uma questão de mercado”. Ou seja, os preços pornográficos que se praticam nas linhas entre Lisboa e a Madeira e entre Lisboa e o Porto Santo derivam, afinal e para esta gente, do facto do mercado estar a funcionar.

Pudera! Quando não existe concorrência, quando o modelo que existe foi-lhes feito à medida e quando ainda arrecadam - indiretamente, é certo - milhões e milhões de euros à custa do subsídio à mobilidade, com dinheiro dos nossos impostos, fica mais do que evidente que o mercado funciona...

E ainda têm a lata - sim, a distinta lata - de rematar que a “elasticidade no sector é brutal”. Julgam que nos comem por parvos?!

Por fim, lá disse que a solução para a Madeira, que regista uma procura muito forte, passaria pelo aumento da capacidade da oferta, uma situação que pretendem concretizar com a chegada de novos aviões A320 e A321. Sem qualquer comprometimento, sem prazos, conforme habitual.

Bem diferente desta posição é aquela que o mesmo CEO afirmou, entretanto, de forma peremptória, acerca da TAP querer 8 novos destinos por ano, nos próximos 5 anos. “Chicago, Washington, Dubai, Telavive e São Francisco são destinos que vão ser entregues, a partir do ano que vem, ano após ano”.

Vai uma aposta que, mantendo-se estas condições de mercado, mesmo que coloquem os “prometidos” novos aviões na linha – o que eu duvido - não reduzem um cêntimo que seja nos preços?

Esqueçam a TAP. Não podemos esperar mais nada desta companhia. Não tem aeronaves, não tem tripulações e, acima de tudo, não tem qualquer vontade de investir em linhas como a da Madeira.

Sem quaisquer expectativas para mais e melhor, poderiam ao menos tentar prestar um serviço razoável que de alguma forma compensasse o altíssimo preço que é pago. Um serviço que, regra geral, é péssimo e que ainda se agrava em situações de atrasos e/ou cancelamentos. Ora é raro o voo que não se atrasa, embora sempre à volta das duas horas e meia. Com atraso superior a três horas, o passageiro é credor, segundo regras da UE, de uma indemnização da companhia aérea. Não é mera coincidência, é “malandragem”. Para bom entendedor brasileiro!

Poderiam, também, deixar-se de “sacanagens” – mais uma, José Manuel Ramos - para fazer face aos “overbookings” que deliberadamente provocam.

Um familiar meu vinha para a Madeira de Lisboa, a 4 de Junho, no voo das 19.25 horas. Chegou com tempo ao aeroporto. Os ecrãs mostravam “Atrasado 19.40 – Porta a determinar”. Depois, mais ou menos às 19.20 horas, passaram a apresentar “Atrasado 19.50 horas – Porta a determinar”.

Num ápice, apareceu “Porta 18 – Última chamada”. Em bem menos de 5 minutos apresentou-se na porta 18 e foi-lhe barrado o embarque, entretanto fechado.

Alegou que os ecrãs deveriam ter mostrado, logo de início, “Dirija-se à porta 18” e, posteriormente, “Embarque na porta 18”. De nada serviu. Não era o único nessa situação. Outros passageiros, que viram informação em outros ecrãs, afirmaram o mesmo. Debalde, ficaram todos em terra, pois o avião tinha 16 pessoas em “overbooking” e o embarque fechara quando ficou lotado.

Encaminhado para um balcão da TAP com fila de mais de 50 pessoas e com apenas duas no atendimento, teve sorte em conhecer alguém que o colocou no próximo avião senão porventura apenas viria no dia seguinte pois, naquela fila, nem às 22.00 seria ouvido.

Menos sorte tiveram outros passageiros no dia anterior. Aconteceu-lhes exatamente o mesmo. No balcão para onde foram remetidos após lhes terem forçado a perder o voo foi-lhes dito que tinha ocorrido um “no show” e que, como tal, não só não teriam direito a qualquer indemnização como teriam de pagar, para alterar o voo, € 800 por pessoa, preço que depois passou para os € 600. Perante as fortes e audíveis reclamações, pagaram, mesmo assim, € 176 por pessoa para poderem embarcar no voo seguinte.

Ou seja, forçam o passageiro a perder o voo e este ainda se vê obrigado a pagar para viajar no horário seguinte. Mas isto faz algum sentido? Assim se percebe a “pilantragem” desta esperteza saloia da TAP.

Três questões se colocam:

1 – Qual é a posição da ANAC relativamente a estas práticas, que só podem ser ilegais? Já que nada faz quanto aos limites de vento do aeroporto, poderia fazer uma prova de vida quanto a isto!

2 – O que anda a fazer António Costa? Não foi o seu Governo que reverteu a privatização da TAP e que fez com que esta ficasse maioritariamente de capitais públicos, também para que as obrigações de serviço público – como sejam as ligações à Regiões Autónomas - fossem cumpridas? Bem sabemos que não é de esperar muito de alguém que proclamou – sem rir – no Dia do Empresário, que os milhões do subsídio à mobilidade aproveitam essencialmente às companhias áreas – entre elas, acrescento, sobretudo, à TAP – esquecendo-se, propositadamente, que é ele que, enquanto primeiro ministro, manda na TAP, além de poder mudar as regras do subsídio.

3 – Que andam a fazer os administradores da TAP, nomeados por António Costa, na qual pontuam alguns seus amigos, nomeadamente aquele que justificou a sua escolha pela “sua condição de madeirense”? Isso não seria um imperativo de consciência que lhe exigia que olhasse com mais carinho, digamos assim, para estes temas dos madeirenses, pelo menos, dos que aqui vivem?