Crónicas

Há mar e mar se o homem deixar

Acorda povo que induz a oportunidade da “ditadura”, desmoralizando os voluntariosos que lutam por todos

Mar de chamas: o país deve criar um ciclo virtuoso na economia que contemple a reorganização do seu território com o mais convincente argumento para o ser humano: o dinheiro. Estamos numa das zonas com incidência de fenómenos resultantes das alterações climáticas, devemos usar as fragilidades para aceder a apoios comunitários e iniciar uma nova abordagem de modo a corrigir a floresta, promover emprego e investigação. Portugal pode converter-se num vendedor de soluções para o mundo nesta matéria, fazendo com que o país rentabilize e pague o seu próprio reordenamento, dando trabalho a universidades (investigação e manutenção de cursos em crise), a investigadores, a meteorologistas, geógrafos, botânicos, etc. Einstein dizia que a mesma experiência produz o mesmo resultado, é o que fazemos ano após ano. Que tal dirigir as rendas da EDP para valorizar a Biomassa? E meter mãos à regionalização como forma de combater a desertificação do interior e obter massa crítica? E leis úteis em vez de produzir a ineficácia dos instrumentos legais e jurídicos? Quem faz leis deve partilhar a sua concepção com quem vive a realidade. Que tal arejar esta “coisa” da estrutura da propriedade? Agilizar as legalizações de terrenos que ficam sem dono por eternos processos judiciais de divisão de bens? Que tal converter a época de incêndios numa estratégia anual que contempla a prevenção nos meses calmos, intervindo no reordenamento do território com uma estrutura profissionalizada?

A Holanda vive com 27% da sua área e 60% de sua população abaixo do nível do mar e converteu o seu problema num trunfo económico. Vende conceitos e soluções para a erosão das costas e a invasão de zonas urbanas pela subida das águas, também tem a indústria para implementar a solução e os laboratórios para testar. Ainda neste país, o Rio Reno acumula e desagua um caudal com a contribuição de outros 8 afluentes (rios) de 5 países. Quando transborda só sucede para lá da fronteira holandesa (normalmente em França). Existe propriedade privada mas também existe a gestão global de terrenos com a programação da sua utilidade. Não serão os incêndios tão incentivadores, enquanto agressão às populações, como as águas? Precisamos de uma experiência piloto (que pode começar nos terrenos do Estado), respeitadora da propriedade privada mas que mostre o benefício de uma outra ideia de posse e de gestão global, nesse momento teremos na nossa relação com a floresta um exemplo e uma fronteira, os de lá prosseguem com a actual situação e podem se chamuscar, os de cá sorriem pelo pragmatismo que diminui as ameaças. É criar um sucedâneo onde o ordenamento do território seja fonte de riqueza e não um luto.

APRAM: foi enviado pelos Portos da Madeira um pedido de auxílio ao GR por não ter efectivos habilitados para a preparação de um caderno de encargos. A APRAM pretende a reunião dos elementos técnicos de um Caderno de Encargos, com base em estudos preliminares, para sobre estes evoluir com quadros que ignoram o processo a fim de conceder o serviço público do Terminal Multiusos do Porto do Caniçal. Este expediente vai repetir os erros do Subsídio da Mobilidade concebido por juristas que não dominavam o negócio. Estamos num claro momento que nos diz que as equipas não são escolhidas para governar mas para satisfazer o tachismo. Entalou, estas situações só geram a suspeição por falta de profissionalismo. Não quero acreditar que a APRAM estará à procura de um bode expiatório que, cometendo erros por ignorância, vai produzir o resultado desejado sem que a administração tenha qualquer culpa. Maquiavélico, alguém voluntarioso ou desejoso por brilhar carregaria inocentemente um fardo. Tendo a Secretaria de Eduardo Jesus avençados, estes parecem incompetentes para prestar serviços neste caso. É por aqui que começa a má fama da Madeira que a ostraciza a nível nacional e internacional e que produz desinteresse não só pela dimensão do mercado mas pela suspeição e falta de idoneidade. Ao ler os trabalhos produzidos, os profissionais detectam logo o quilate do governo e aonde quer chegar. Soa a muito suspeito que um governo capaz de produzir as 37 considerações que fundamentam a Resolução nº 270/2017 de 26 de Abril deste ano, para revogar a Resolução nº 509/2008, de 28 de Maio, onde o GR reconheceu o interesse estratégico para a economia regional na aplicação do regime de licenciamento nos Portos do Funchal, Caniçal e Porto Santo, tenha agora que abrir um expediente para angariar um bode expiatório responsável por CONCEDER com novas regras. Que se cuidem os técnicos do Governo, há por aí um Bolo Rei com fava e brinde.

Petição do ferry: decorre na internet uma petição dirigida à Assembleia Legislativa Regional solicitando a declaração de interesse público para ligação marítima via ferry entre a Madeira e o continente. Sucede que o ritmo de assinaturas é baixo, e porque esta crónica é sem tabus, chego à conclusão de que as redes sociais tornaram-se num comodismo e uma falácia. Comodismo porque é a maneira mais fácil de chegar a todos à distância de um click mas que não dão a cara. Uma falácia porque muitos likes e amizades são actos instintivos de interesse duvidoso, talvez coscuvilhice. Reconheço a desilusão de outras petições enquanto instrumento abusivo de candidatos para atingirem os seus objectivos políticos. Inquinaram um instrumento que facilita a vida das pessoas para voltarmos à necessidade da primitiva assinatura presencial com a credibilidade de uma cara. No entanto, nessas ocasiões, as assinaturas dirigidas à Assembleia da República foram em dobro do necessário. A cidadania tem um potenciómetro regulado pelo medo e pela política? Acorda povo que induz a oportunidade da “ditadura”, desmoralizando os voluntariosos que lutam por todos. Madeirenses, continentais ou os quase 27.000 seguidores de um Grupo do Ferry não deveriam ser suficientes para cobrir 2000 assinaturas? Falhadas as petições de Savoy e ferry, resta o silêncio de um povo que soçobra às mãos das pretensões do poder económico que escraviza eleitores através de maus políticos. Ergam-se! Não há políticos nesta petição.