O treino de força em crianças e adolescentes
Treino com peso do próprio corpo vs. Treino com cargas progressivas
Este é um tema que tem gerado muito controvérsia desde há muitos anos e ainda nos tempos de hoje há quem defenda que não se deve fazer treino de força em crianças. É claro que existe também o outro lado da moeda, que defende que o treino de força deve ser feito em crianças.
No mundo actual, penso que o problema para que este assunto não esteja devidamente esclarecido deve-se à falta de conhecimento por parte das pessoas e dos técnicos de Desporto, uma vez que a maioria dos treinadores defendem que o desenvolvimento de outras capacidades físicas, como a velocidade e a resistência, é importante para o atleta (criança). Já no que toca ao reconhecimento da importância do treino de força, isso irá exigir um grau de conhecimento por parte do técnico um pouco mais vasto.
Desde há muitos anos que ouvimos que o treino de força traz perigos para o desenvolvimento normal das crianças, mas é mais que óbvio que qualquer tipo de treino, quer seja de resistência, velocidade ou força, se não estiver adaptado ao nível de maturação e desenvolvimento do praticante, irá certamente trazer complicações para a saúde, sejam os praticantes adultos ou crianças.
Evitar fazer treino de força em crianças é completamente errado, pois a força está mais que interligada com outras capacidades, como a coordenação e a velocidade, sendo estas duas capacidades cruciais no desenvolvimento físico em etapas de formação.
No entanto, parar aplicar treino de força em crianças, é necessário conhecer as características das diferentes etapas do crescimento e adaptar os meios e métodos de treino às capacidades específicas de cada idade e estado de maturação.
Felizmente, a literatura científica neste momento contém um suporte de informação fidedigna que defende o treino de força em crianças e jovens e o mito de que o treino desta capacidade física atrasa a taxa de crescimento ósseo e retarda o desenvolvimento músculo-esquelético das crianças e dos jovens vai cada vez mais desmistificado.
Muitos autores defendiam que seria inútil aplicar treino de força com os mais jovens, autores estes que afirmavam também que as crianças com idades inferiores a doze anos não beneficiam dos treinos de força porque não têm testosterona suficiente (hormona masculina associada ao desenvolvimento muscular) que permita ganhos significativos ao nível da força muscular.
Este argumento é hoje em dia inválido do ponto de vista fisiológico, porque seria o mesmo que dizer que as mulheres não têm a possibilidade de aumentar a força muscular porque possuem uma quantidade reduzida de testosterona. É mais que notório e consensual afirmar que tanto crianças como mulheres conseguem aumentar os seus níveis de força, tendo ou não esta hormona em grandes quantidades.
Num estudo científico do mais conceituado investigador nesta área do treino de força em crianças, de seu nome Dr. Avery Faigenbaum, crianças de dez anos que foram submetidas ao estudo conseguiram aumentar a sua força em 74% em dois meses, treinando duas vezes por semana. Apesar do grupo de controlo apenas ter sofrido incrementos de força na ordem dos 13%, derivados unicamente do seu crescimento e desenvolvimento natural, o grupo que foi submetido ao treino de força obteve ganhos bastante mais significativos.
Uma vez que a parte neuromuscular tem um papel muito implicativo nos ganhos de força, as crianças que são submetidas ao desenvolvimento desta capacidade física vão aprimorando e ganhando outras capacidades, tais como a coordenação, devido à aprendizagem motora da tarefa e não ao desenvolvimento do tamanho do músculo.
Por incrível que pareça, existem ainda muitos autores que defendem que o treino de força em crianças é contranatura e que as mesmas não gostam de o fazer. Argumentam que as crianças devem apenas realizar exercícios utilizando o peso do próprio corpo, realizando elevações, extensões de braços, agachamentos, etc.
Segundo a literatura e mais um estudo do Dr. Avery Faigenbaum, as crianças estão cada vez mais a aderir a programa de treinos de força de livre vontade em escolas e centros de treino e que se mantêm a frequentar os mesmos durante muito tempo, atraindo e incentivando outros amigos e colegas. A evolução corporal e autossuperação são alguns dos factores que fazem com que as crianças e jovens se mantenham nestes programas.
Existe a preocupação de que o treino intenso e regular de força possa, de alguma forma, prejudicar o crescimento estatural do jovem atleta. Convém salientar que não existem estudos que comprovem esta situação, bem pelo contrário (Borms, 1985; Naughton et al., 2000).
De facto, a prática regular de treino de força, se correctamente orientada, estimula o crescimento e a maturação biológica (Barros, 2003):
• O treino de força nas crianças não causa qualquer comprometimento na taxa de crescimento ósseo.
• As crianças podem aumentar significativamente a força muscular através de treino progressivo de força.
• As crianças que participam num programa de treino de força de oito semanas conseguem aumentar significativamente mais a força da parte superior do tronco do que aquelas que não participam.
• As crianças conseguem aumentar o seu peso corporal (devido ao desenvolvimento da massa magra) se participarem num programa de treino de força progressivo.
• As crianças normalmente expressam a sua satisfação, quer com o processo, quer com o produto dos treinos de força supervisionados e acompanhados.
• Verifica-se um aumento da densidade mineral óssea (estimula o crescimento).