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Arlequim ou Pierrot?

O que oferecemos aos habitantes deste mundo para quererem vir cá no Carnaval?

O Carnaval surgiu com a implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, e antecede um período de quarenta dias de jejum, de preparação para a Quaresma.

Este período de privações acabaria por incentivar a realização de festividades nos dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas, onde se comia, bebia e participava em alegres celebrações e busca incessante dos prazeres, ficando depois relacionado com a ideia de “festa do adeus à carne”.

Carnaval é espairecer, brincar e pensar sobre a realidade.

É com este intuito que se imortalizaram figuras como o Arlequim, Columbina, o corcunda narigudo Pulcinella, Pantalone e ainda Pierrot, numa das peças de teatro mais famosas do Carnaval de Veneza.

Arlequim é a personagem mais popular. Pouco inteligente e trapalhão, mas astuto e sedutor, consegue ludibriar todos.

Pulcinella é um corcunda narigudo, um escravo, ora astuto, ora cobarde, conforme a sua conveniência.

Pantalone é um mercador rico, detentor de um imenso ego aliado ao dinheiro que lhe dá poder e estatuto. Apesar da sua idade já avançada faz sempre tentativas para seduzir as mulheres sendo sempre rejeitado.

Pierrot é uma personagem triste, mas de confiança. A sua mulher Columbina trai-o com Arlequim.

Quando cai a máscara, fica a dura realidade. Columbina prefere Arlequim a Pierrot que é uma personagem de confiança. A brincar, devemos pensar como estamos a reagir na realidade.

Carnaval pode ser sinónimo dos cortejos no Brasil e do seu samba, mas sua origem é bem distinta. Existe o Carnaval de Veneza, muito mais antigo e mundialmente famoso, com uma lógica completamente diferente, repleto de atividades culturais.

Este ano, Veneza propôs diversas ofertas carnavalescas, custando cada uma 400 Euros por pessoa. E conseguiram lotar eventos e a venda de quartos. Como eu gostaria de ver estes preços por aqui...

Veneza conseguiu esta fama mundial porque é diferente, incluindo cultura, máscaras e cortejos elaborados com pormenor em vez de quantidade, teatro com sátira e comédia, um divertimento requintado.

O que oferecemos aos habitantes deste mundo para quererem vir cá no Carnaval?

O sonho de qualquer responsável na área do turismo é que o país/região/cidade da sua responsabilidade tenha atratividade todo o ano, atraindo turistas/visitantes com poder de compra para benefício da hotelaria, do comércio e da restauração local, o destino turístico. Que os turistas se apaixonem pelo que oferecemos e regressem com outros por convite.

Creio que o sonho do turismo para a Madeira é partilhado por todos. A diferença está na forma como se deveria estar a concretizar o sonho, nomeadamente na forma de venda do destino, na acessibilidade, na promoção e nas apostas de mercado de turismo. Estamos num momento “filão” da conjuntura internacional e não aproveitamos para escolhermos o nosso mercado que importa. Pequeno, distinto, de classe.

Sem politiquices, estamos a concorrer com o mundo e nele sentimos no dia-a-dia a dura realidade sem máscaras.