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Stop de bullying

Ontem assinalou-se o Dia Mundial da Prevenção do Bullying, termo inglês que de acordo com a Wikipédia “é um anglicismo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia e sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder”. Frequentemente associamos o bullying ao contexto escolar, mas este fenómeno pode também acorrer em contextos laborais (na relação colega-colega ou chefe-trabalhador) e familiares (na relação pais-filhos ou entre casal) onde a humilhação, o escárnio, a desvalorização do outro são frequentes e causam mal-estar e sofrimento psicológico na pessoa que vive neste ambiente pouco contentor do seu desenvolvimento pessoal e profissional, onde se sente sem valor, inferior, pouco estimada e “obrigada” a partilhar um espaço doentio e pouco prazeroso com o outro.

Infelizmente é cada vez mais frequente ouvir nos noticiários relatos de situações de bullying nas escolas e/ou entre jovens que frequentam a mesma escola, e isto levamo-nos a crer que se trata de um fenómeno que tem vindo a aumentar na nossa sociedade, não pela sua frequência, (pois sempre existiu situações de conflito e violência entre pares) mas pela gravidade dos atos cometidos. Por outro lado, o uso da internet e das redes sociais, o designado ciberbullying, faz com que esta “violência acompanhe o jovem até casa” e que esta já não seja um espaço protetor e limitativo da ação do agressor. Prevenir situações de bullying, é, enquanto educadores, estarmos atentos e presentes no desenvolvimento das nossas crianças, proporcionando-lhes momentos e situações onde estas possam praticar a tolerância e o respeito pelas diferenças.

De facto, muitas vezes, ainda que o façam sem intenção, acabam por ser os pais que modelam os comportamentos que a criança virá a ter mais tarde, e muitas vezes, o problema não é não amar ou não investir...É antes fazê-lo em demasia, acabando por gerar crianças com grande dificuldade em tolerar a frustração, com dificuldades a nível da socialização e com uma forma de estar muito centrada nelas próprias, acabando por não conseguirem colocar-se no lugar do outro. É também o uso excessivo das redes sociais, da internet e da perda de contacto com a realidade. Hoje em dia, e cada vez mais cedo, as nossas crianças passam muito tempo “ligadas” aos outros através do computador ou do telemóvel, perdendo-se o contacto cara a cara, as amizades reais construídas através de laços e conquistas diárias vivenciadas e vividas pelos envolvidos. Onde os valores como a solidariedade, a empatia, o afeto, a tolerância, o respeito pelas diferenças e pelo outro, ganham outra dimensão (ou a perdem totalmente). Este novo “modo de vida” tornamo-nos mais solitários, mais isolados e menos atentos aos outros. Por outro lado, temos pais que não investem e que maltratam e que acabam por determinar o comportamento posterior da criança em função desta sua atitude e prática parental, crianças que sofrem e que acabam por reproduzir este modelo nos outros e nas relações que estabelecem.

Mais do que apontar “culpados”, cabe-nos a nós educadores encontrar um ponto de equilíbrio entre amar demais e amar de menos, onde amar significa sermos modelos e exemplo de conduta, não vamos ser péssimos, nem excelentes, vamos permitir-nos falhar numa medida em que seja possível promover o desenvolvimento dos nossos filhos, apenas o suficiente para que a criança consiga sentir-se amada mas, ao mesmo tempo, sentir segurança para ser autónoma e independente e, assim, aprender a gostar de si e do outro, e para que assim não necessite agredir ou deixar-se vitimar-se pelo outro.

Em situações de bullying é importante procurar ajuda, denunciar a situação, romper o medo e falar com alguém de confiança, com os pais, com um professor, com o melhor amigo, para que juntos possam quebrar o ciclo de agressões e atuar antes que a dor e a angústia se tornem insuportáveis. Por vezes, e em determinadas situações, também é importante procurar ajuda técnica especializada, junto do psicólogo da escola ou fora desta, que poderá orientar e aconselhar os pais, os professores e a direção da escola de como atuar, quer com a vítima, quer com o agressor.

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