Crónicas

Arraiais e as nossas tradições

Há inclusivamente espaço para criarmos novos conteúdos e tradições. Isso não tem que implicar a descaracterização das nossas raízes culturais

A matriz cultural de uma sociedade ou País é factor fundamental para o seu desenvolvimento e projecção. Nós, em Portugal, temos a felicidade de podermos puxar o filme um pouco atrás e observarmos uma história plena de caracterização, de identificação como pessoas em relação à nossa educação, formação pessoal enquanto indivíduos. E não há homem sem cultura porque a cultura é a marca do homem. É essa a razão que não nos permite olhar para o futuro de uma forma consistente sem honrar o passado e não podemos por isso dissociar o passado do presente e este do futuro.

Essa é também a função de todas as demonstrações culturais que apelam às nossas raízes , à lembrança de tempos passados com os nossos. Chamamos a isso de tradições, porque não se referem só ao passado mas à permanência no desenvolvimento. Eu acredito por isso , sou um acérrimo defensor aliás de preservarmos essas mesmas tradições naquilo que é a sua génese. Obviamente que existem coisas que evoluem mas que não podem descaracterizar esses mesmos fenómenos culturais sob pena de estarmos a criar novas tendências e novos conteúdos.

As festas tradicionais e os arraiais, alegria do povo e das comunidades, factor de união e confraternização que cria laços e integra pessoas na sociedade são fundamentais para a manutenção dessa mesma história que nos acompanha. É para mim estranho de ver a invasão que certos “players” da noite e do entretenimento estão a fazer a esses mesmos conteúdos com o único intuito de faturar, iludindo Câmaras e Associações , acenando com Djs internacionais ou nacionais de grande porte , transformando os arraiais que deviam manter a sua essência e o seu propósito em autênticas Raves ou festivais de Música.

Há espaço para todos esses eventos, há inclusivamente espaço para criarmos novos conteúdos e tradições, isso não tem que implicar a descaracterização das nossas raízes culturais, nos eventos que nos relembram os nossos antepassados e dessa história tão nossa que é procurada por tantos milhões de turistas todos os anos. As pessoas , essa tem que ser sempre a verdadeira razão e o objectivo último, as pessoas. São elas que formam ao longo de anos e anos a nossa matriz cultural e que através destas manifestações constroem também o seu orgulho a vontade de ser de cá, a amizade pelo vizinho e pela terra.

É fundamental não nos deixarmos vender por meia duzia de tostões nem cair no mais fácil , há espaço para tudo e é importante a diversificação mas nunca nos podemos esquecer que é a prestigiar o passado é a relembrá-lo, é nessa experiência através dos tempos que estaremos mais preparados para construir o futuro... e com a Poncha a espetada e os bailinhos estaremos um pouco mais felizes e alegres também.