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Polémica em torno das quotas dos deputados do PSD-Madeira ‘aqueceu’ campanha morna

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A campanha para as eleições directas no PSD decorreu quase sempre num tom morno, com pouca atenção mediática, e só ‘aqueceu’ com polémicas à volta do pagamento das quotas e no único debate realizado entre os três candidatos.

O presidente do PSD, Rui Rio, o antigo líder parlamentar Luís Montenegro e o atual vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, são os três candidatos que disputam no sábado a presidência do partido em eleições diretas.

Se nenhum deles obtiver mais de 50% dos votos, a segunda volta realiza-se uma semana depois, dia 18, entre os dois candidatos mais votados, numa das maiores incógnitas destas eleições.

Nas candidaturas teoricamente mais fortes, de Rio e Montenegro, fontes de ambos os lados manifestam confiança numa vitória no sábado, mas também assumem que a disputa será renhida e admitem a possibilidade de, pela primeira vez na história do partido, ter de se recorrer a uma segunda volta.

O novo regulamento de quotas aprovado em julho - e que implica que apenas seja fornecida ao militante a referência de multibanco necessária ao pagamento da sua quota - dividiu os candidatos desde o início, com a direção de Rui Rio a defender o objetivo de impedir “as vigarices” dos pagamentos massivos e a candidatura de Montenegro a contestar que se tenham introduzido novas regras em cima do processo eleitoral, tendo apelado a que todos os militantes (com ou sem quotas em dia) pudessem votar.

Com as novas regras, acabaram por ser pouco mais de 40 mil os militantes do PSD que podem votar nas diretas, menos 30 mil do que nas eleições de há dois anos - o universo eleitoral era de 70.385, mas acabaram por votar 42.655, cerca de 60% do total.

Na reta final da campanha, surgiu uma nova polémica relacionada com as quotas, depois de conhecidas as intenções do PSD-Madeira de permitir que votem 2.500 militantes, apesar de a secretaria-geral apenas contabilizar 104 com quotas pagas à luz do novo regulamento.

Polémicas à parte, a ‘chave’ do resultado eleitoral estará, como habitualmente, nas quatro maiores distritais do PSD: Porto, Lisboa, Braga e Aveiro registam, por esta ordem, o maior número de militantes em condições de votar, centralizando mais de 57% do total do universo eleitoral.

Ao contrário de outros atos eleitorais do passado no PSD, incluindo as diretas de há dois anos entre Rio e Pedro Santana Lopes, a atual campanha mereceu, quase até ao final, pouco interesse mediático e apenas numa ocasião os três candidatos se confrontaram num debate (em 2018 foram três e em 2010, com quatro candidatos, quatro).

Na RTP, em dia de aniversário da morte do fundador Sá Carneiro, 04 de dezembro, os três candidatos à liderança do PSD trocaram acusações de hipocrisia e de maus resultados em diferentes momentos da história do partido e Rui Rio confrontou os adversários com uma alegada pertença à maçonaria, que Montenegro negou e que Pinto Luz disse já ter abandonado há uma década.

Se no debate televisivo ficou a imagem de que as divisões internas que marcaram os dois anos de mandato de Rui Rio continuam vivas, os candidatos não se diferenciaram nas críticas que fazem à governação socialista nem no modelo económico que defendem para a sociedade.

Durante a campanha, a relação do PSD com o PS foi o tema que mais dividiu os candidatos, com Montenegro e Pinto Luz a procuraram colar o atual presidente aos socialistas, dizendo que “subalternizou” o partido com os acordos que firmou com o Governo ou até que quer transformar o PSD numa “espécie de PS2.

Rui Rio reiterou a disponibilidade para acordos de regime e a defesa de uma oposição construtiva, repetindo que porá sempre o interesse do país à frente do do PSD, se necessário.

A posição quanto ao próximo Orçamento do Estado também marcou a campanha, com Luís Montenegro a defender a sua rejeição ainda antes de o documento ser conhecido e Pinto Luz a fazê-lo pouco depois da sua apresentação. O presidente do PSD anunciou o voto contra dos sociais-democratas na terça-feira, a três dias da votação do documento, justificando que a posição do maior partido da oposição tem de ser “sustentada”.

Na estratégia eleitoral para os próximos dois anos, os três candidatos coincidem em apontar as autárquicas de 2021 como o desafio mais importante do partido, enquanto nas presidenciais só Montenegro e Pinto Luz se comprometem com o apoio a uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.

Se Rui Rio quer o partido pronto para governar em 2021, Montenegro aponta como objetivo para as legislativas uma nova maioria absoluta, embora sem rejeitar alianças, só excluindo o Chega - ao contrário de Pinto Luz, que não afasta a possibilidade de diálogo com nenhuma força política com assento parlamentar.

Na última semana de campanha, Montenegro já ensaiou o discurso de unidade ao falar dos outros candidatos como “parceiros e companheiros” - só António Costa é o “adversário” - enquanto Pinto Luz assume querer ser “a surpresa das eleições”, num vídeo em que ‘simula’ esse cenário numa reportagem fictícia.

A utilização intensiva das redes sociais Facebook e Twitter foi uma das inovações desta campanha interna, com os três candidatos a recorrerem várias vezes ao dia a estes canais para divulgarem os seus apoios e até mensagens políticas em primeira mão.