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Estudo comprova factores que determinam diversidade de aves em ilhas oceânicas

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Um estudo internacional, no qual participaram dois investigadores portugueses, mostrou, pela “primeira vez”, que a colonização, extinção e formação de espécie de aves em ilhas oceânicas está relacionada com o tamanho do arquipélago e a distância ao continente.

“Queríamos tentar testar a Teoria da Biogeografia das Ilhas que Robert MacArthur e Edwar Wilson propuseram em 1960. É uma teoria muito simples e elegante, mas nunca foi provada do ponto de vista global e com dados empíricos”, afirmou Martim Melo, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto.

A Teoria da Biogeografia das Ilhas, proposta em 1960, prevê que o número de espécies em ilhas oceânicas varie em função da área do arquipélago e do seu isolamento, isto é, distância ao continente.

O modelo, que é um dos “mais conhecidos” em biologia evolutiva, adianta também que a diversidade de espécies de aves de um arquipélago resulta do equilíbrio entre a colonização e a extinção.

Apesar de não terem conseguido incluir na Teoria da Biogeografia das Ilhas o papel da evolução, os investigadores acreditavam que a formação de novas espécies nas ilhas teria um papel fundamental na diversidade.

Em declarações à Lusa, o Martim Melo explicou que para comprovar esta teoria, o estudo, publicado na revista Nature, recorreu a sequências de ADN de 596 populações de espécies de aves, provenientes de 41 arquipélagos oceânicos.

“Para obtermos a sequência de ADN das aves, recorremos a redes para apanhar as aves, assim como a espécies de museus, dados de outros estudos onde o ADN de algumas espécies já estava descrito e a dados de base públicas”, contou.

Além da sequência de ADN das aves que coabitam ou coabitaram os arquipélagos oceânicos, a equipa, composta por 11 investigadores, recolheu também dados de populações de aves continentais, por forma a “perceberem a filogenia”, isto é, a relação que existia entre as diferentes populações.

Correlacionando os dados filogenéticos com um modelo matemático, desenvolvido pelo investigador líder do estudo, Luís Valente, do Naturalis Biodiversity Center (Países Baixos) a equipa conseguiu “estimar as taxas de colonização, especiação [processo evolutivo das espécies] e extinção” das ilhas.

Segundo Martim Melo, a investigação permitiu assim comprovar, pela primeira vez a teoria proposta em 1960, nomeadamente, que a colonização, extinção e formação de espécie de aves em ilhas oceânicas está relacionada com o tamanho do arquipélago e a distância ao continente.

“O número de espécies aumentar com a área é uma das predições do estudo original, obviamente, que quanto mais área existe numa ilha, mais espaço existe para diferentes habitats, logo, quanto maior a ilha, maior a própria população de uma determinada espécie e menor a probabilidade de extinção”, explicou.

Outra das propostas da teoria estava relacionada com o isolamento do arquipélago ao continente, algo que, segundo o investigador, foi também possível verificar.

“Quanto mais isolada e distante do continente estiver a ilha, menor o número de espécies que alberga”, referiu o investigador

E acrescentou, “além destes fatores, conseguimos também mostrar que quanto maior a ilha e o seu isolamento ao continente, maior a formação de espécies dentro do arquipélago, uma vez que, quanto maior a área, maior é a probabilidade de existirem mais habitats, logo, maior é o número de espécies”.

À Lusa, Martim Melo, que é também coordenador de exploração no Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto, adiantou que estão agora a ser desenvolvidos estudos em ilhas continentais, nomeadamente, em Bioko, uma ilha no Golfo na Guiné, onde estão já a realizar trabalho de campo.

“Estamos a concentrar-nos nas ilhas continentais, ou seja, nestes arquipélagos que a certa altura se soltaram do continente devido às alterações dos níveis do mar e ficaram isolados. Isto é muito diferente porque, ao contrário das ilhas oceânicas, esta ilha traz com ela um conjunto de espécies. Queremos perceber quais as dinâmicas destas espécies”, concluiu.