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Saúde e circo

A redução de custos na saúde enfrenta, frequentemente, a oposição mais ou menos camuflada de quem da saúde vive

Com a Saúde a tornar-se, cada vez mais, uma questão central nas preocupações de toda a gente, o custo e a transparência de processos devem ser tidos em atenção, não só por quem tem por obrigação presidir aos desígnios dos Serviços de Saúde, como pelos cidadãos em geral, potenciais utilizadores e compulsivos pagadores através dos impostos.

As inovações constantes, que, felizmente, têm acontecido nos últimos anos, se por um lado permitem melhores resultados na preservação da saúde e no tratamento das doenças, por outro lado acarretam custos frequentemente difíceis de comportar pelas administrações de saúde.

Para além das despesas crescentes e da necessidade de transparência, a experiência e a informação disponível aos consumidores fazem com que estes sejam progressivamente mais conscientes e exigentes.

Para contrabalançar os crescentes custos da saúde há que encontrar sistemas de organização dos cuidados que permitam a sua rentabilização, quer na utilização de meios e de infraestruturas quer no desempenho dos profissionais. É necessário planeamento, motivação e um bom suporte informático e de comunicação que possibilite gerir adequadamente os recursos e que permitia a disponibilidade permanente e atempada da informação, dentro do sistema, impedindo duplicações e redundâncias com os concomitantes custos parasitas não produtivos. Com a necessária atenção à segurança e à cibersegurança de dados.

A visão holística e interdisciplinar da saúde – que leve ao aprofundamento da relação médico-paciente e à complementaridade quer diagnóstica quer terapêutica, à mudança de comportamentos e estilos de vida – a influência da situação socioeconómica, do ambiente, a educação para a saúde, a localização geográfica podem ser factores positivos ou impedimentos à eficácia de um sistema de saúde.

A acessibilidade, quer física quer virtual, aos cuidados é ponto fulcral e deve ser facilitada e desenvolvida. Acessibilidade não só às infraestruturas físicas mas, fundamentalmente, a cuidados atempados, que não se compadecem com a existência mal gerida de extensas listas de espera.

A redução de custos na saúde enfrenta, frequentemente, a oposição mais ou menos camuflada de quem da saúde vive. Deve haver, portanto, por parte dos cidadãos, informação e formação suficientes para pressionar quem detém o poder no sentido de planear e desenvolver medidas de optimização que permitam reduzir encargos sem baixar a qualidade dos serviços prestados.

Enquanto aguardamos a “medicina de precisão” que está, ainda, na infância, e irá permitir tratar os doentes de acordo com a sua individualidade biológica, não podemos ficar de braços cruzados assistindo à degradação dos Serviços de Saúde. Está mais do que na hora de agir.

Enquanto estes problemas de fundo se encontram a pairar algures sem que, aparentemente, alguém se preocupe em estudá-los e resolvê-los, distraímo-nos com o premente assunto de quem vai ocupar que cargo nas diferentes instâncias da estrutura regional de saúde...