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Envelhecimento populacional: urge pensar fora da caixa

Muito se fala do envelhecimento da população e do problema que vai ser no futuro uma população trabalhadora reduzida ter que suportar uma população de reformados de grande dimensão. Pelos números que têm sido divulgados, Portugal está entre os países com população mais envelhecida e a envelhecer cada vez mais depressa.

As soluções apresentadas e implementadas até ao momento parecem-me não sair do pensamento dentro da caixa, ou seja, tentativas de reduzir o número de reformados, (aumentando a idade da reforma, por exemplo) ou de aumentar o número de crianças através de alguns incentivos à natalidade. Este tipo de soluções, como já referi nesta coluna, não me parece ser o que resolve o problema porque a produtividade dos trabalhadores diminui muito, na maioria das ocupações, a partir de certa idade e a condição de saúde dos trabalhadores também tende a deteriorar-se e pensarmos que os casais irão aumentar significativamente a dimensão das suas famílias com os incentivos que são propostos parece ser o reflexo de um desconhecimento das múltiplas razões que os levam a ter tão poucos filhos.

A solução sustentável tem que passar por termos uma população muito mais produtiva e para que tal aconteça é necessário que sejam feitas intervenções de apoio às famílias mesmo antes da criança nascer. Os estudos mostram que os investimentos feitos nas primeiras fases da vida da criança ou antes delas nascerem têm uma rendibilidade muito maior do que os investimentos que são feitos mais tarde na vida das crianças. As crianças, através das intervenções, podem adquirir competências que lhes permitam atingir a plenitude das suas capacidades.

Pensemos, por exemplo, que ao apoiarmos uma família conseguimos que o filho que vai nascer em vez de produzir, em adulto, o que corresponde a um salário mínimo, venha a produzir o correspondente a três salários mínimos, isto significa que conseguimos que essa criança possa, em adulto, viver melhor e ainda contribuir para as reformas dos mais velhos.

Para mim tão preocupante é o envelhecimento como são os milhares de jovens que entram no mercado de trabalho e não conseguem emprego ou recebem salário mínimo por não terem as competências necessárias para desempenharem funções melhor remuneradas. A grande diferença é que enquanto ao primeiro facto nada ou pouco podemos fazer, em relação ao segundo podemos, como sociedade, fazer muito. O importante é querermos fazê-lo!